quinta-feira, 22 de março de 2012

Resenha: Inquisition, Akerbeltz e Incredulus.

A chegada do outono foi marcada pela música extrema na capital mineira. A banda colombiana Inquisition trouxe seu black metal in duo para o Music Hall, ainda propalando o excelente Ominous Doctrines of the Perpetual Mystical Macrocosm, lançado em 2010. O evento foi no Music Hall e teve participação das mineiras Akerbeltz e Incredulus. Descabaçando a estação que possui as noites mais longas que os dias, nada melhor que um puta show de três bandas que clamam o lado mais obscuro da música mundial, tanto ideológica quanto musicalmente.
E tinha tudo para dar errado. Em uma noite de terça-feira, chuvosa, ficar entocado nos recônditos é um convite tentador. Mas a escolha da data estava associada à ausência de prováveis 7 em cada 10 bangers que compraram o ingresso, meses atrás: o cancelamento do magistral Absu. Segundo pessoas ligadas à produção, um simples trâmite burocrático impediu que os texanos legalizassem o visto para tocar em solo brasileiro. O pedido deveria ser feito, no mínimo, com 30 dias de antecipação à data do show. Porém o amador – desculpe, mas foi – marcado com a incumbência, só cumpriu a simples função no dia 5 deste mês (!). O resultado foi o adiamento inicial da apresentação, inclusive do Absu, transferida da sexta passada, 16, para a data supracitada. Horas após a divulgação, o evento da terça estava confirmado, mas sem o Absu... Isso gerou um sentimento de frustração generalizado, refletido em redes sociais, na galeria da praça 7 e nas conversas profanas de botequins. No fim das contas, um pequeno público compareceu ao Music Hall. Mas, como digitamos no começo do texto, tinha tudo para dar errado, mas não foi bem assim. Talvez tenha sido um fiasco financeiro para quem contratou as bandas, informação também negada pela produção, mas o público com certeza saiu satisfeito com o que viu, e ouviu.Mesmo que as três hordas tenham a mesma proposta ideológica – satânica, obscura, transgressora e hedonista, as sonoridades da tríade são bem distintas, confirmando o vasto campo a ser explorado, dentro de um estilo que muitos teimam em “crucificar”, alegando justamente a falta de criatividade. A primeira a subir e tocar para um público ainda muito pequeno foi a Akerbeltz. Warhammer Midgard (vocal, baixo), Belial (guitarra) e Misanthorpic (bateria) trouxeram aquele black metal dos primórdios, embriagado na fonte venenosa criada por Tomas G. Warrior, Martin Ain e Cronos. Músicas como The Powerfull Pentagram, Under the Sign of Satan e Cult of The Shadows remetem aos tempos áureos dos endiabrados Celtic Frost e Venom. Não somente, a cara do trio mineiro fica muito evidenciada na homônima Akerbeltz, com rápidas palhetadas nas seis cordas, dadas pelo rotundo . Um lance bacana, muito percebido em shows de música extrema na cidade, é o quão profícua é a nossa cena, com bandas fazendo trabalhos comparáveis aos dos gringos, sem a verba que muitos deles possuem. Outra prova da noite foi o Incredulus,
o trio from hell chamado às pressas para amenizar o sofrimento de quem não mais assistiria ao Absu. Alheios à qualquer problema de ordem logística, Umbra Sordidus (baixo, vocal), Demogorgon (guitarra, vocal) e Itis Nocturnus (bateria, vocal) empunharam os machados e foram para a guerra. Com um público já menos desfavorável em relação aos compatriotas, os três fazem o que vêm fazendo desde o começo do século. Black metal coeso, muitas vezes furioso, outras mais épico, cantado em português, e com um diferencial fascinante: todos os músicos revezam no vocal, algumas músicas cantando em duo, outras individualmente. Pérfiro Cortante e Fraternos Delitos, esta última com cara de hino, bradado nas profundas, merecem atenção especial. Terminado o último show mineiro, hora da atração principal, mérito herdado do Absu. Outra grande supresa foi quando apenas dois músicos subiram ao palco. Geralmente, bandas de black metal quando possuem apenas dois membros, ou um, como, respectivamente, Darkthrone e Taake, logo convidam parceiros quando o lance é ao vivo. Mas Dagon (guitarra) e Incubus (bateria) subiram ao palco sem ninguém para olhar ao lado, apenas para frente, ou para trás. Dagon modulou sua guitarra para executar, também, linhas distorcidas de baixo – se a moda pegasse, muito baixista ia sifo. O som que saía das seis cordas, atrelado ao trampo de Incubus, era hipnotizante. Nos primórdios, o trabalho da dupla era bem thrash metal, mas logo no primeiro disco a coisa já seguiu os rumos do capeta. Após três petardos, Dagon cumprimenta o público em castelhano e inglês. Isto porque ele, apesar de nascido nos EUA, morou grande parte de sua vida em Cali, na Colômbia, até retornar já mais velho para os braços do Tio Sam. Músicas como Crush the Jewish Prophet e Empire of Luciferian Race fariam Jack e Meg White venderem suas almas e mudar o nome de White para Black Stripes. Dagon tem um vocal que ficaria entre os timbres de Attila Csihar (Mayhem) e Abbath (Immortal). Seus dotes guitarrísticos surpreendem pela desenvoltura e eficiência. Deve ser uma função muito difícil não dividir o palco com muitos colegas. O espaço para circular é mais que o necessário, sobra aos montes. Dagon escolheu o seu cantinho, ao lado esquerdo do baterista, e sentou a lenha. Músicas como Cosmic Invocation Rites e Imperial Hymn for Our Master Satan flertam com um lado mais progressivo da banda, ensejando headbanging cadenciado e viagens subjetivas para quem escuta. Após o soco no estômago dado com Ancient Monumental War Hymn, os dois músicos despedem-se do público e saem de cena. Logo após, Wagner “Antichrist”, do eterno Sárcofago, que curtia o show, foi convidado para ir ao backstage. Provavelmente para ser ovacionado, já que lá fora respeitam mais o cara do que aqui. Uma noite para entrar nos anais (sodomize the dead!) do metal mineiro. O Curupira dá os sinceros parabéns para os true headbangers que fizeram o sacríficio de encarar uma quarta-feira numa ressaca do cacete. São vocês que mantêm a chama acesa... Hail!
Set List

AKERBELTZ:

1) Akerbeltz

2) The Powerfull Pentagram

3) Ave Lucifer

4) Under the Sign of Satan

5) Cult of the Shadows

6) Welcome to the Sabbath.

INCREDULUS:

1) O Alastrar das Obscuras Almas Ímpias

2) Erebo

3) O Negrume que Toma a Terra

4) Fraternos Delitos

5) Ovelha Boçal

6) Pérfuro Cortante

7) Finado.

INQUISITION:

1) Astral Path to Supreme

2) Nefarious Dismal Orations

3) Empire of Luciferian Race

4) Command of the Dark Crown

5) We Summon the Winds of Fire (For the Burning of All Holiness)

6) Where Darkness is Lord, and Death the Beginning

7) Embraced By the Unholy Powers of Death and Destruction

8) Imperial Hymn for Our Master Satan

9) Crush the Jewish Prophet

10) Cosmic Invocation Rites

11) Desolate Funeral Chant

12) Ancient Monumental War Hymn

2 comentários:

  1. Parabéns a equipe do Blog pela qualidade do conteúdo e da escrita. Com certeza irei acompanhar com frequência.

    Camila Pádua - Cuiabá - MT

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    Respostas
    1. Valeu Camila Pádua!
      Obrigado pelo apoio e interesse pelo nosso trabalho!
      Estamos começando agora e temos a intenção de não deixar a chama Underground enfraquecer, através de informação, discussão e divulgando nossa cena.
      O seu comentário nos satisfaz e incentiva a continuar!
      Bem vinda ao mundo do CURUPIRA!
      Grande abraço!
      O Curupira.

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