quinta-feira, 12 de abril de 2012

Umskiptar: a metamorfose do Burzum.



O nome Burzum despertou e continua a despertar um sem número de polêmicas que, ao longo dos anos, garantiram a publicidade necessária para manter a one man band sob os holofotes. Assassinato, queima de igrejas, declarações xenofóbicas, racistas, ou mesmo nazistas, dão a tônica para uma história pra lá de controversa. Porém, sem nos determos a tais detalhes, temos que admitir, por mais que alguns discordem, Burzum é uma das maiores e mais influentes bandas da história do black metal, ditando mudanças e propondo novos paradigmas dentro do estilo. Aliás, praticamente todas essas novas tendências vanguardistas “pós-norueguesas”, surgidas no final dos anos 1990, tais como depressive black metal, post-black metal ou ambient black metal, devem alguma coisa para o sujeito em questão. O projeto vem indicando novas referências para a obscura arte, através do uso e criação de atmosferas depressivas, cósmicas, cheias de guitarras sujas, gravações repletas de ruídos e composições minimalistas.

Pois eis que o (anti) herói - se é que da pra chamar esse maluco disso - nos brinda com mais uma pérola surpreendente. Varg Vikernes lança “Umskpkar” o terceiro álbum desde que saiu da prisão, em 2010. As letras foram tiradas do poema nórdico "Völuspá", que fala sobre a criação e a destruição do universo, além de ser uma das grandes narrativas da mitologia daquele país. Só que tudo aparece de maneira sui generis, para além de irritantes estereótipos “RPGísticos” levados a cabo por milhares de bandas de metal. O disco é carregado em referências à mitologia e cultura nórdicas, sim. Mas é contemplativo, meditativo, filosófico de uma maneira unusual para o universo da cena extrema. Amparado, como sempre, pela noção de escuridão, Varg continua a saga de criar obras totalmente ritualísticas com a intenção de invocar um encantamento do mundo. Mundo esse, segundo palavras do músico expressas em artigos e entrevistas, cada vez mais repleto de luz e monotonia “judaico-cristã-capitalistas”. Um mundo moderno que perdeu suas referências ancestrais e se entregou à lógica racionalista, amparada pelo lucro, pela tecno-ciência e pela escravidão da população global. Portanto, por mais que o discurso de Varg esteja enraizado nas asneiras de extrema-direita, é contra esse desencantamento do mundo que ele luta com sua música.

Deixando um pouco o lado político da mágica, a musicalidade presente em “Umskiptar” é única. Muitas introduções atmosféricas, também minimalismo, climas épicos e sutilezas convidam o ouvinte para embarcar numa viagem cosmogônica. A tradução da palavra “Umskiptar” é metamorfose. È exatamente isso que prevalece no álbum: camadas de guitarras, vozes, momentos de quase silêncio, sugerindo o movimento de transformação e destruição que regem o universo. Algo que remonta também ao processo de envelhecer, à passagem do tempo e do amadurecer. Talvez, assumindo o peso da idade e experiência, esse seja o álbum da maturidade do Burzum. Um trabalho que alguns artistas privilegiados têm a possibilidade de lançar dentro de uma carreira longeva. Sereno, sem a agressividade e a urgência tão caras à juventude. Por outro lado, as canções, apesar de sua singularidade e experimentação, têm muito ainda da tradição do heavy metal. Algo de Iron Maiden nas linhas de baixo na belíssima “Join”. Aliás, a influência da Donzela está presente em vários momentos como em “Alfadanz”, canção cheia de riffs de heavy metal tradicional e pianos que evocam a melancolia do compositor erudito Eric Satie. Ecos dos anos 1980’s (neo folk, post-punk, Cure, Smiths), influência assumida em entrevistas por Vikernes, se fazem ouvir aqui e acolá . Os vocais, grande destaque do álbum, são um caso à parte. Vão do grito ao sussurro, passando pelo rasgado até chegar ao grunhido. A impressão que se tem é que várias pessoas estão cantando e não apenas um cara. Enfim, um trabalho genial que, se não supera os clássicos do início de carreira, marca uma nova fase para o projeto. Uma era mais rica em sutilezas e arranjos inusitados para o metal. Da trilogia iniciada após a saída da prisão, com “Bellus” (2010) e “Fallen” (2011) esse é, de longe, o melhor capítulo. Provavelmente muitos fãs vão torcer o nariz para o álbum, já que se trata de um trampo diferente na discografia do norueguês. Varg criou um épico minimalista cheio de contrastes.

Nota do Pé Virado: 9 (10)



Um comentário:

  1. Boa resenha...... estou ouvindo o album e espero muito dele... o dark/ black ambient é um dos meu generos preferenciais, concordo plenamente que as bandas black ambient, atmospheric black, e ate esse nome depressive black metal que considero meio modista, sao bandas pós burzum, todas influenciadas por varg que é percursor do genero. Todos os grandes genios da musica era meio loucos.... entao todas as polemicas passam despercebidas, diante de sua musicalidade.

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