segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Curupira foi: Marduk e Enthroned


O segundo domingo deste mês, 12, Dia dos Pais, foi marcado pela visita de alguns filhos do cramulhão à Belo Horizonte. A banda Marduk veio para destilar o melhor do veneno profano criado pelo black metal. A apresentação fez parte da turnê de divulgação do último disco, Serpent Sermon, lançado recentemente. O evento, ocorrido no Studio Bar, teve como convidado outro expoente europeu, os belgas do Enthroned, ainda divulgando o trabalho deste ano, Obsidium.

Para os bangers que acompanham a cena há alguns anos, não havia nenhuma atração debutante na cidade. Pelo contrário, as duas esquadras já visitaram a capital diversas vezes. Inclusive o recorde de banda gringa em BH, contando este último show, pertence ao Marduk. Foram cinco vezes presenteando os mineiros com a mais sincera e barulhenta blasfêmia. A novidade está mais associada ao local onde os caras tocaram. É muito raro o Studio Bar ceder espaço para o metal, especialmente a música extrema. Uma jogada legal da produção, talvez visando minimizar os gastos, ter escolhido um espaço menor que o de praxe. Se fosse no Music Hall, onde é de costume rolar esses tipos de shows, seria um fiasco visual. Pelo menos no Studio deu impressão de casa cheia, mesmo com umas 100 pessoas nele.

Como registro, vale citar a postura do pessoal da Cogumelo, um dos envolvidos na logística da noite, checando o ingresso de cada um na entrada. E não é fritação, exagero, trata-se de apenas uma medida de segurança. Alguns shows atrás, ainda no Music Hall, um espertinho tentou entrar com ingresso falso. Tá de sacanagem, o infeliz. Nos últimos anos vem sendo tão difícil ter um público razoável na cidade, e ainda vem um babaca e tenta diminuir o retorno pecuniário de quem se dispõe a organizar a parada. Pelo menos não houve registro de fraude desta vez. Mas é bom saber que tem gente de olho...

Falando de música, o tom da noite foi o mais genuíno e maldito black metal. Nos anos de 1980, quando o heavy metal consolidou-se como fenômeno juvenil mundial, muitos dos seus filhos nasceram. O mais profano veio do entroncamento de bandas como Bathory, Hellhammer, Venom e Bulldozer. Gritos de dor, de escárnio e conjuração, aliadas a rápidas paletadas e batidas desconcertadamente. Na parte lírica, cantos de amor ao capeta em profusão e algumas críticas também de cunho religioso. Mas é nos anos de 1990, com a segunda geração do black metal, que o subestilo ganhou força ideológica. Especialmente na Europa, mais especificamente nos países escandinavos. Para estes jovens iconoclastas não bastava cultuar o demo. Era necessária uma equação que pudesse ovacionar o sombrio, defenestrando tudo aquilo que fosse cristão. Alguns descerebrados resolveram queimar igrejas e se matarem. Outros, mais espertos, usaram a música em questão como o mecanismo de tortura.

A primeira horda a levantar o cálice endiabrado foi a Enthroned, tocando nestas paragens pela terceira vez. Nornagest (vocal), Neraath (guitarra), Phorgath (baixo), Garghuf (bacteria) e Noens (guitarrista convidado para turnês) realizaram uma verdadeira missa negra. O público ainda chegava quando rolava o primeiro petardo, Deathmoor. Porrada do novo disco, com muito headbanging, pedais duplos e celeridade nas seis cordas. Essa foi a tônica da apresentação; black metal coeso, tipicamente europeu. Um detalhe curioso é que, desde 2006, com a saída de Lord Sabathan, o quarteto não tem nenhum membro original na formação.

Mas isso não foi nenhum problema. Verdadeiros hinos dos países baixos, como Through the Cortex e Vermin, foram executados. Vale citar a postura do vocalista Nornagest, hoje com muito menos cabelo que outrora – mais uma vítima da crueldade imposta pelo tempo. Nas partes em que ele trocava os urros por evocações tipicamente eclesiásticas, o gordinho levantava a mão direita, com os dois dedos em riste, como se fosse um padre mesmo. Até água o músico “benzeu” e jogou na turma do gargalo. Black metal sem um pouco de teatro perde um tanto da sedução. Vale citar também a excelente dupla de guitarras, muito afiada, com poucos erros percebidos. A última pedrada foi a maravilhosa Evil Church, impossível não bangear nessa. Uma intro bem heavy tradicional, depois a blasfêmia e a velocidade imperam no mais puro ritmo do capeta. Mais uma apresentação de respeitos dos belgas.

Era hora dos gringos mais conhecedores de Belo Horizonte fazerem outra demonstração de seu arsenal sonoro. Morgan “Evil” (guitarra), Maguns “Devo” (baixo), Hans Daniel “Mortuus” (vocal) e Lars Broddesson (bateria) completaram cinco visitas à cidade, um recorde. E o show foi o mesmo dos anteriores: brutal ao extremo. Quando falamos de tocar ao vivo, longe dos estúdios, o Marduk é um dos grupos com melhor performance. Os caras sobem ao palco e descarregam uma espécie de choque musical, ultra veloz. Apesar da turnê em questão ser do disco lançado este ano, Serpent Sermon, apenas duas faixas dele foram tocadas. O set revisitou toda a carreira dos suecos, desde o começo, quando o anticristianismo e o satanismo eram bem fortes, até um passado recente, quando a banda resolveu apostar em uma temática mais beligerante, falando de guerras e todo o horror que ela traz – claro, sem perder o vínculo com o tinhoso. Mais uma vez o grande destaque fica por conta de Mortuus. O cara tem um par de cordas vocais que assustam. Quem ficou perto do palco sentia constantemente os tímpanos vibrarem intensamente, tamanha a força da garganta do vocalista. Sua postura em cena é praticamente perfeita, não somente o poderio com o microfone. A maneira de cantar, bangueando freneticamente, o canto com o corpo curvado, como se estivesse sofrendo para gritar, e a interação com o público fazem dele um frontman por excelência. Ninguém sente saudades do antigo vocalista, Legion, que, não obstante sua voz poderosa, saltitava no palco feito uma gazela ululante...

Verdadeiros socos sonoros no estômago, intercalados com intros, foram dados durante o show. Impressionantes como os caras conseguem transmitir toda a fúria e a velocidades dos álbuns para as execuções ao vivo. Lars parece ter três braços, um deles fica por conta apenas da caixa, nos blast beats frenéticos – enquanto os “outros” exploram o kit. Morgan, o grande cérebro do quarteto, consegue arrancar choros copiosos de sua guitarra, trazendo aquela sonoridade específica do black metal.

Quem foi teve a oportunidade de ouvir marcos emblemáticos do estilo, como Materialized in Stone, Throne of Rats e Bapstim By Fire. Quando eles tocaram Souls for Belial, do último trampo, a maquiagem facial de Mortuus já estava toda derretida – algo inevitável, eles não estão na Europa, certo? Em determinado momento de Panzer Division Marduk, um silêncio, seguido apenas de baixo e bateria. Na verdade, a intenção era que o público desse sequência na música, seguindo orientação de Mortuus. Mas não deu certo, os bangers ficavam apenas gritando o nome dele, repetidamente. Um mico justificável. Para encerrar, uma das mais belas representações do cancioneiro heterodoxo: Wolves. Show de black metal raramente tem uma roda tradicional, mas essa com certeza mereceria, pelo ritmo hipnotizante que possui. Era pra dançar mesmo. Ao final, o vocalista agradece o público e diz: “until next time, oh Hail!”. Alguém duvida?

Set Lists:

ENTHRONED

1 – Deathmoor

2 – The Ultimate Horde Fights

3 – Sepulcred Within Opaque Slumber

4 – Through the Cortex

5 – Deviant Nerve / The Burning Dawn

6 – Obsidium

7 – Horns Aflame

8 – Radiance of Mordacity

9 – Petraolvm Salvia

10 – Vermin

11 – Under the Holocaust

12 – Evil Church

MARDUK

1 – On Darkened Wings

2 – Nowhere, No-one, Nothing, Wormwood

3 – Serpent Sermon

4 – The Black Tormentor of Satan

5 – Still Fucking Dead (Here´s no Peace)

6 – Warschau 2: Headhunter Halfmoon

7 – Materialized in Stone

8 – Baptism by Fire

9 – Womb of Perishableness

10 – Souls for Belial

11 – Azrael

12 – Throne of Rats

13 – Panzer Division Marduk

14 – Wolves

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Músico do Sonic Youth, se une a supergrupo de Black Metal



Thurston Moore, guitarrista e vocalista do Sonic Youth, uma das maoires bandas de rock alternativo de todos os tempos, vai se juntar ao projeto que reúne a nata do black metal norte americano contemporâneo. O Twilight é um supergrupo que reúne - ou reuniu- , em formações flutuantes, figurões do cenário USBM, como Blake Judd, do Nachtymistium; Jef Whitehead, do Leviathan; Malefic, do Xasthur, além de membros de grupos post-metal, como Isis e Neurosis. O “dream-team” do metal extremo norte-americano também estava em hiato desde 2010, quando lançaram seu ultimo álbum, Monument to Time End. Agora que os envolvidos têm mais tempo para se dedicar ao projeto, um line up reformulado conta com Judd e Withehead, além de músicos de esquadras negras, como Atlas Moth e Krieg. Eles devem entrar em estúdio para gravar o novo album, que ainda não tem titulo nem data confirmada peara o lançamento. O mais interessante é que Blake Judd garante que esse disco será uma volta às raízes e soará mais black metal que o ultimo trabalho. Além disso, estão cogitadas participações no festival Roadburn, em 2013, e outras apresentações limitadas, já que, segundo Judd, em entrevista ao site da MTV, “o Twilight é essencialmente um projeto de estúdio”. O povo mais truzera vai odiar, provavelmente. Porém, será interessante ver a contribuição do “rei” do noise rock para a expansão de um estilo já desgastado e repetitivo ao extremo como o black metal. Só nos resta aguardar.


Twilight - Fall Behind Eternity

Album: Monument to Time End - 2010

terça-feira, 31 de julho de 2012

Nachtmystium prepara-se para lançar novo álbum e divulga prévia


Uma das principais representações do chamado United States Black Metal prepara-se para lançar seu novo trampo, nos dias 30 (Europa) e dia 31 de julho (EUA), via Century Media. A bagaça promete ser, nas palavras do líder Blake Judd, um puta álbum que resgatará as origens cruas e as caracteristicas “raw” do estilo. Envolto em polêmicas diversas – que vão desde uma suposta ligação, no passado, com ideias de extrema-direita, até a incorporação de influências psicodélicas nos últimos álbuns – o Nachtmystium soltou material que antecipa o lançamento: uma nova música, I Wait in Hell, que integrará "Silencing Machine", o sexto disco de estúdio do conjunto. Com os antecessores Black Meddle Pt.1: Assassins (2008) e Black Meddle Pt. 2: Addicts (2010) os norte-americanos escolheram um caminho que não contempla o BM em sua feição mais pura. Os álbuns acabaram tanto por influenciar vários músicos quanto desagradar a alguns fãs mais ortodoxos. Com esse novo trabalho, Judd e seus companheiros pretendem trazer de volta as raízes mais ríspidas, embora, segundo ele, essas nunca tenham deixado o som da banda totalmente. O que se encontra em I Wait in Hell, a nova faixa, é provavelmente isso: um equilíbrio entre as “evil roots” dos caras e as informações e valores mais floydianos dos últimos registros. Ouça e tire suas próprias conclusões.


sábado, 28 de julho de 2012

O Curupira recomenda: My Dying Bride - The Barghest O' Whitby


O My Dying Bride é, dentre o trio death doom inglês do cast da Peaceville Records - completado por Anathema e Paradise Lost - a banda que mais apostou numa sonoridade singular e que nunca abriu mão do peso. Isso pode ser comprovado pelo último lançamento feito pelo grupo, The Barghest O’ Whitby, seu melhor trabalho em anos. O EP, lançado ano passado depois do full lenght Evinta, é constituído por uma única canção de 27 minutos, uma verdadeira epopeia da ruína – e de longe, a mais longa música criada pelos caras. A obra abre ao som de tempestades, bem ao gosto da estética doom iniciada com os mestres Black Sabbath, em 1970. O trampo é um álbum conceitual que trás a estória de uma entidade demoníaca presente no folclore britânico, e abordada por autores como Sir Arthur Conan Doyle e Bram Stoker. A banda, que andou flertando com outras vertentes musicais, como o post-punk e a música eletrônica, ao longo de suas décadas de carreira, realiza uma espécie de releitura do doom sujo que fazia no início dos anos de 1990. Porém, não se trata apenas de uma mera “volta às origens”: o som traz outros elementos mais contemporâneos do doom, chegando a lembrar, em alguns momentos, o drone de bandas como Sunn O))) e Earth. Dividida em três atos, entrecortados por momentos de quase silêncio, peso arrastado e surtos de pancadaria avassaladora, o petardo tem, ainda,os violinos característicos do My Dying Bride, além dos vocais grunhidos do vocalista Asron Stainhorpe, tão característico dos seus primórdios. Ao mesmo tempo, as influências de Celtic Frost e Candlemass continuam lá, intactas, com as guitarras de Andrew Craighan e Hamish Hilton Glencross lembrando o peso e sujeira presentes nos trabalhos iniciais. Os elementos citados aparecem de uma maneira natural, sem soarem como uma repetição de clichês e bem-sucedidas fórmulas passadas. Uma verdadeira viagem sombria, cheia de detalhes, sutilezas e contrastes. Tomando rumos diferentes dos caminhos mais “brandos” de esquadras da sua geração, como Anathema, Paradise Lost e Katatonia – formações que começaram dentro do cenário death doom e que , com o passar dos anos, seguiram uma orientação ligada ao rock moderno – o My Dying Bride segura a onda do peso, mantendo-se intacto dentro da seara do metal extremo. Aquele dos pés virados aprova o “renascer” desses mestres soturnos.



My Dying Bride - The Barghest O' Whitby

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Old Throne e Anti-life preparam-se para lançar petardos


Duas excelentes hordas da cena extrema de Nova Friburgo (RJ) preparam-se para lançar novos petardos. Tratam-se do Old Throne e do Anti-life, bandas capitaneadas pelo multinstrumentista Fernando Old Cunt, que ainda lidera o Neblina Suicida e o Count Old. Ambas são one man band, dignas representantes do metal negro nacional, que se pautam por um som primitivo e sujo, fazendo o melhor da estética raw/lo-fi, aqui por nossas plagas. O Old Throne, principal banda de Fernando, está em vias de lançar "O novo mundo pagão", seu segundo full-lenght, pelo selo brasileiro Corvo Records, nos formatos CD e tape oficiais. Criada em 2007, a banda aborda em suas letras temas como anti-religião, ódio, guerra tudo dentro de uma atmosfera nietzscheana, que honra os fortes e despreza os escravos e os fracos. A julgar pela faixa Corpos de Aço, postada abaixo, o trabalho vem trazendo aquele black metal áspero, mas sem abrir mão da atmosfera e de uma verve poética, com influências de Bathory, Darkthrone antigo e Nargaroth. Porém, apesar dessas inspirações, o cara pratica um som sui generis, com letras cantadas em português, não ficando a dever nada aos gringos. Já o Anti-Life coloca na cena o EP "Bem vindos ao começo do fim", lançado aqui, no Brasil, pelo selo Brutal Combat Records. O trabalho será lançado em breve na Europa, via Sword Productions. São cinco faixas, lançadas no formato cassete, contendo uma sonoridade mais rasgada do que a o Old Throne, com referências de desgraceiras nórdicas, como Ildjarn. Anti-life é pura representação sonora da misantropia e do ódio puros. Portanto, se você aprecia black metal funesto e honesto isso é para você. Apoie o metal nacional. O Curupira recomenda.


Old Throne - Corpos de aço

Anti Life - Bem vindos ao começo do fim

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Mais um dos grandes que se foi! R.I.P. Jon Lord.


Segunda feira, dia 16 de julho de 2012. Hoje, o rock'n roll e o heavy metal ficaram mais tristes, desfalcados e menos iluminados: morreu, aos 71 anos, em um hospital de Londres, Jon Lord, um dos fundadores do Deep Purple – e de quebra um dos pais tanto do som mais pesado, quanto do rock e metal sinfônicos. Um dos maiores tecladistas de todos os tempos, o britânico criou um estilo inimitável, dando vida eterna a hinos como Smoke on the Water – uma das canções mais emblemáticas da história do rock, que Lord, aliás, ajudou a compor com a timbragem inconfundível das suas endiabradas teclas. Ambicioso, ele compôs e idealizou o Concerto for Group and Orchestra, em 1969, quando contribuiu para a criação e consolidação da fusão entre rock e a música erudita – em companhia de obras como Sgt. Peppers, dos Beatles – ao unir uma banda de rock com a Royal Philharmonic Orchestra, no Royal Albert Hall, pela primeira vez na história. Isso sem falar na importância do Deep Purple para o rock e o metal, no transcorrer dos anos de 1970. Infelizmente, Lord afastou-se do Purple em 2002 - depois de tocar com monstros sagrados como David Coverdale, e Ritchie Blackmore, entre outros. Mas o coroa continuou compondo e gravando álbuns solos, até o diagnóstico do câncer no pâncreas, há cerca de um ano. Simplesmente uma lástima. Uma perda irreparável. Hoje as Darkwoods encontram-se em silêncio, em homenagem a esse bruxo dos teclados....


Confira o vídeo: Deep Purple - Concerto Para Grupo e Orquestra, 1969.


sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Curupira celebra o rock!


13 de julho é comemorado o Dia Mundial do Rock. Essa data se deu em função da realização do festival Live Aid, organizado, na mesma data, em 1985, por Bob Geldof – ex-líder da banda punk Boomtown Rats, e protagonista do filme The Wall, de Allan Parker. O festival, que pretendia arrecadar fundos para as criancinhas da África, acabou se tornando um fenômeno de massas, vendendo vários budgets e enriquecendo seus organizadores. Apesar de ser, para muitos, uma piada e um típico exemplo de demagogia, cinismo e mercantilismo perpetrado pelas grandes corporações e pelos países ricos ocidentais, o evento se tornou um marco. Por isso a criação da data. O rock n roll, desde os seus primórdios, sempre foi considerado um veículo fora da lei. Desde o rebolado de Elvis, passando pela psicodelia do Pink Floyd, luxúria satânica dos Stones, até chegar ao comedor de morcegos Ozzy Osborne, o rock se posicionou como um porta-voz dos anseios da juventude ocidental do pós-guerra. Por mais que hoje a coisa esteja diluída e o choque cultural tenha sido amortecido, o estilo mudou o mundo. Boa parte dos questionamentos comportamentais que vemos hoje em dia, como a emancipação sexual, novos modelos de família e a evolução de minorias oprimidas não seriam possíveis sem um dedo desse senhor grisalho e descabelado. O rock n’ roll não é apenas música ou um estilo que você compra no supermercado da esquina: é um modo ser e enxergar o mundo. Os estudantes das barricadas do maio de 68, nos protestos contra a guerra no Vietnã e outros lugares usaram a música revolucionária como um mote e trilha sonora para suas ações. O rock é o combustível de corações e mentes mundo afora. É um dos grandes acontecimentos do século XX, assim como A 2ª Guerra Mundial e a viagem do homem à Lua. É pedaço da história da Civilização Ocidental. O Curupira se propõe a ser um espaço para a música extrema. Mas como o metal é o filho bastardo e funesto do rock- assim como esse é o filho maldito de vários pais como o blues, country, R&B etc. Sem o rock não existiria metal. Portanto, é impossível não fazer uma homenagem. TODO DIA É DIA DE ROCK!!! Ou, como diriam os Mutantes: “Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o ROCK AND ROLL!” Para não perder o costume de ser profano, o Curupira escolheu um representante do rock maldito contemporâneo para ilustrar musicalmente este post. Se o som agradar, podemos mandar uma resenha dos caras, é só pedir!



Ghost (Live At Hellfest) França, 2011

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Escola sueca de death metal divulga nova música


Os veteranos do Grave acabam de disponibilizar um aperitivo do novo trabalho, o décimo da carreira. Passion of the Weak é a quinta faixa do disco Endless Procession of Souls. O trampo está marcado para sair na Europa no dia 27 de agosto próximo, ainda não se sabe quando vai chegar por aqui. O novo petardo foi gravado no estúdio próprio da banda, chamado Soulless, homenagem ao clássico de 1994. Após uma recente passagem na América do Sul, os suecos começam um giro no Velho Continente em setembro, partindo depois para a América do Norte, em uma turnê maldita com Morbid Angel e Dark Funeral. Com o apoio do site Decibel Magazine, confira o novo petardo desse ícone do death metal.











Endless Procession Of Souls, 2012.

I. Dystopia

II. Amongst Marble And The Dead

III. Disembodied Steps

IV. Flesh Epistle

V. Passion Of The Weak

VI. Winds Of Chains

VII. Encountering The Divine

VIII. Perimortem

IX. Plague Of Nations

X. Epos



Grave - Passion Of The Weak

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Curupira foi: Immolation, Incantation e Nervochaos


Belo Horizonte teve uma das noites musicais mais caóticas dos últimos tempos! Direto das terras do Tio Sam, as bandas Incantation e Immolation trouxeram um tanto de blasfêmia e agressividade para a cidade. O evento foi na última sexta-feira, 6, no Music Hall. Como convidados, os paulistanos malditos da Nervochaos. Infelizmente, já está virando praxe os shows extremos ficarem sem público na cidade. Mas dessa vez um componente diferenciado da justificativa se fez presente. Como o Curupira não foge da raia, muito menos da polêmica, antes de falarmos das apresentações, vamos a uma discussão que durou toda a semana do evento. No sábado seguinte ao show, as duas bandas gringas tocaram em um festival na cidade de São José do Rio Preto, SP. Além das três supracitadas, 17 excelentes representações do metal nacional completaram o cast. Shows gratuitos, proposta sedutora. Um ônibus especial lotado saiu daqui, levando mais de 50 headbangers pra bagunça. E o coletivo psrtiu justamente do Music Hall, local marcado para o encontro dos viajantes. O ocorrido levantou duas opiniões contrárias. Teve gente que achou um despautério organizar um especial utilizando como carro chefe as apresentações lendárias, que também aconteceriam em BH. Para esses, a atitude demonstra total despreocupação com a cena daqui, foda-se se o show estiver vazio. Mas também teve outra parcela de bangers que acredita ser normal um trampo desse porte, já que seriam 20 esquadras de respeito tocando de graça. Ok, mas a gratuidade é para quem mora em Rio Preto. Saindo daqui o pacote custava 120 paus – 40 a mais que o ingresso na sexta. De qualquer forma, quem foi ao show de BH teve a sorte de ouvir 15 petardos do Incantation, e 18 do Immolation – algo com certeza não feito em SP...

Trânsito caótico, falta de táxi em BH e um trampo de última hora impediram que nossa reportagem chegasse a tempo de curtir os caras do Nervochaos. Uma pena, pois a curiosidade era enorme para ver essa nova formação ao vivo. Apreciando o vídeo (link lá embaixo) gravado pelo colega Edmar Alves, dá pra ver que Edu Lane (bateria), Guiller (vocal, guitarra), Quinho (guitarra) e Felipe Freitas (baixo) não perderam a mão e continuam marretando os ouvidos alheios com o salutar death/thrash de sempre.

Logo depois, hora de uma das lendas da noite, visitando Belo Horizonte mais uma vez. O Incantation entrou no palco trazendo toda a atmosfera modorrenta e tétrica dos seus álbuns. O eterno líder, John McEntee – único membro remanescente da formação original – surpreendeu com seus vocais cavernosos e abissais, que contrastavam com sua imagem de “tiozão-boa-praça”. A banda fez uma apresentação na qual alternou clássicos de seus vocalistas anteriores, Craig Pillar e Daniel Corchado, com o material produzido a partir de 2004, com McEntee assumindo os screams, além das habituais seis cordas. Atualmente, o fundador é acompanhado nos funerais por Kyle Severn na bateria (Acheron, Wolfen Dociety), Alex Douks na guitarra (Master, Goreaphobia, Ex-Funerabrum) e Chuck Sherwood no baixo. Com membros flutuando em torno da figura de John, existe uma alta rotatividade na formação, trazendo sempre em suas fileiras vários veteranos da cena yankee. Destaque para o monstro Sherwood, na banda desde 2008, que deu um verdadeiro show nas quatro cordas, executando várias linhas e escalas apocalípticas em seu Rickenbaker, sem usar paletas. Tocou na raça, usando os dedos, demonstrando técnica, feeling e punch. Kyle Severn, que já veio aqui acompanhando o Acheron, é um monstro no uso dos pedais duplos e blasting beats. As guitarras de Douks e do lendário líder alternavam entre tremolos e riffs sorumbáticos. A certa altura da apresentação, uma surpresa emocionante: McEntee agradece ao público presente e fala sobre a importância de determinado grupo da cena local para a extrema mundial. De repente, eles executam um trecho de Nightmare, do Sarcófago, fazendo com que os bangers entrassem em êxtase. No meio dos incautos, um ilustríssimo presente: Wagner Lamounier (ou Antichrist, para o povo da velha guarda), retribuiu com um sorriso que ia de uma orelha até a outra, visivelmente agradecido pelo reconhecimento de seu trabalho dedicado à profanação musical. Simplesmente, um momento mágico presenciado pelos poucos felizardos presentes. A banda seguiu seu death único, com influências de doom e black metal, culminando a apresentação com a clássica Ibex Moon, música já postada aqui no Curupira. Posteriormente, o encore com Impending Diabolical, e o hino old school, Profanation, vieram mostrar porque o Incantation influenciou – e influencia – tanto veteranos, como Nile, quanto novos artistas, como Disma, Funebrarum e Eccoffinnation. Uma aula sublime de metal da morte.

Como se até ali já não fosse suficiente, era chegado o momento do Immolation estourar o cabaço do palco mineiro. Pela primeira vez, Ross Dolan (vocal, baixo), Steve Shalaty (bateria) Bob Vigna e Bill Taylor (guitarras) pisavam em território belorizontino. Novamente vale lamentar o público pequeno no Music Hall, mas, ao mesmo tempo, sentir-se laureado por presenciar tamanha pujança musical em um verdadeiro caos sonoro. Um set bem variado, que soube acalentar fãs dos 10 trabalhos lançados até hoje, contando dois Ep´s. Close to a World Below, faixa homônima do disco de 2000, abre a matança. Se não houve roda durante nenhuma apresentação da noite, pelo menos não faltou empolgação e sintonia entre banda e público. Como prova, Ross conversou com quem estava à sua frente várias vezes. A primeira foi antes de executar What They Bring – do novo EP, Providence, e disponível 0800 no site dos caras – quando disse que era um prazer visitar BH, após 25 anos de estrada. E dá-lhe clássicos! Dawn of Possession, Father, You´re Not My Father e Glorious Epoch foram aulas do mais genuíno death metal norte-americano. Por mais que o cabeludo Ross (cara, uma das maiores cabeleiras da cena!) dominasse o público com seu gutural garboso e linhas precisas no baixo, outro componente pode ser considerado a grande atração da noite. É impressionante o que Bob Vigna faz com sua guitarra. O careca joga o trem pra frente, para o lado, pro alto, dava tapas com a ponta dos dedos nas cordas, tudo com muita fúria e precisão, batendo cabeça pra cacete, sem soar clichê. E ainda não mencionamos a qualidade de seus solos, técnicos e velozes, seguindo o ritmo musical do quarteto. Muito bacana também foi quando Dolan comentou sobre a qualidade das bandas de metal brasileiras. Foram mencionadas pelo vocalista as mineiras Sarcasmo e Sepultura, além dos gaúchos Krisiun. Ross disse que a música feita aqui é muito instrumental e serve de inspiração para ele. Hombridade que merece respeito. Antes de mais um hino, Into Everlasting Fire, o empolgado e inspirado cantor homenageia os colegas do Incantation, que dividiram com eles o palco no primeiro show da banda, nos EUA, em 1988. Para o encore estavam reservadas três porradas, mas, talvez pelo pequeno público, elas não foram executadas. Não obstante a frustração por não ouvir Majesty and Decay, quem esteve no Music Hall saiu com a alma encantada pela imolação sonora proporcionada por duas representações mais que emblemáticas do death metal mundial. Pra quem não foi, agradeça ao colega, historiador e true headbanger, Edmar Alves, pela gravação de trechos dos shows, logo abaixo.


Set Lists:

Incantation

1 – Primordial Domination

2 – Dying Divinity

3 – Oath of Armageddon

4 – Invoked Infinity

5 – Devoured Death

6 – Vanquish in Vengeance

7 – Shadows From the Ancient Empire

8 – Progeny of Tyranny

9 – Once Holy Throne

10 – Anoint the Chosen

11 – Ascend Into Eternal

12 – Lead to Desolation

13 – Ibex Moon

Encore:

14 – Impending Diabolical

15 – Profanation

Immolation

1 – Close To a World Below

2 – Swarm of Terror

3 – Dawn of Possession

4 – What They Bring

5 – Passion Kill

6 – Father, You´re Not My Father

7 – Power and Shame

8 – Once Ordained

9 – Den of Thieves

10 – Unholy Cult

11 – Under the Supreme

12 – A Glorious Epoch

13 – Still Lost

14 – No Jesus, No Beast

15 – Harnessing Ruin

16 – Into Everlasting Fire

17 – Illumination

18 – Sinful Nature


NERVO CHAOS - Total Satan - Ao vivo em BH 06-07-2012.

INCANTATION - Impeding + Profanation - Ao vivo em BH 06-07-2012.

IMMOLATION - Ao vivo em BH 06-07-2012.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Curupira recomenda: Immolation, Dawn of Possession


Se existe um estilo bastante sui generis nas terras do Tio Sam, esse é o death metal. Assim como o black metal norueguês, o heavy britânico, ou o thrash alemão, o death praticado nos EUA é bem peculiar. Nomes como Deicide, Cannibal Corpse e Morbid Angel elevaram o tema em questão para um patamar carregado na agressividade, blasfêmia, técnica e velocidade. Nessa hecatombe de bandas que surgiram na transição dos 1980´s para 90´s, o Immolation deu as caras. Um pouco menos técnico e mais desesperador que os grupos supracitados, o quarteto de Nova Iorque tem seu nome carimbado como grande baluarte da cena mundial. Às vésperas de uma apresentação, a primeira, em BH, o Curupira comenta aqui o primeiro trampo deles, Dawn of Possession, de 1991. Um disco que não tem a velocidade dos últimos trampos, mas reflete muito daquela aura maldita que pairava nos Estados Unidos, nos early 90´s. Muito influenciados (e influenciando também) pelos monstros comentados na abertura do texto, o debut, gravado em Berlin (GER), é simplesmente uma aula do deathão mais cru possível. A trinca inicial, Into Everlasting Fire, Despondent Souls e a faixa título, dão um soco direto no estômago do banger, refletindo no cérebro. Uma paulada sonora de riffs característicos, dedilhadas rápidas e portentosas, capazes de fazer até a mamãe gritar o nome do capeta. O freio de mão é puxado apenas na quarta sessão, Those Left Behind, que, apesar de mais arrastada, não perde em brutalidade. E isso é um grande barato no som do Immolation. Eles sabem alternar momentos caóticos, com outros nem tão acelerados, porém mais obscuros – muito disso atribuído ao vocal singular do cabeludo Ross Dolan. Infernal Decadence é composta por frases curtas, que atribuem velocidade extrema, alternada com aquele air evil headbanging guitar feeling, você sabe do que estou falando. No Forgiveness e Burial Ground mostram que death metal é bom quando a dupla de guitarristas oferecida é competente. Tom Wilkinson e Robert Vigna nem sabiam disso quando gravaram o disco, eu acho, mas o resultado é do caralho. After My Prayers é o petardo mais trabalhado, uma rifferama cheia de variações e uma excelente performance do baterista Craig Smilowski. Depois da macabra Fall in Disease, o disco encerra com a faixa que leva o nome da banda, a que mais flerta com o thrash, portanto, a mais mosheira. Se você é um neófito e ficou curioso em conhecer mais o som, ou se é veterano e já sabe de cor e salteado sobre todos os oito discos de estúdios, uma coletânea e dois EP´s lançados, vale a pena ir ao Music Hall na próxima sexta-feira e conferir ao vivo o potencial dos caras. Como prévia, vai aqui uma palhinha deles no palco. Enjoy!


Confiara a faixa Burial Ground ao vivo no festival Deathfest Neurotic, Holanda, 2010.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O Curupira recomenda: Incantation, Mortal Throne of Nazarene


Incantation é uma banda inscrita nos primórdios do death metal norte-americano. Formada em 1989, por John McEntee (guitarra e vocal) e Paul Ledney (Profanatica), em Johnstown, no estado da Pensylvania, o grupo criou um som único que hoje é cultuado e enaltecido por vários artistas mundo afora. Esquadrões contemporâneos, como Disma, Dead Congregation, Encoffinnation, entre outros, pagam um verdadeiro tributo idólatra à banda, chegando a copiar desde o som até o formato de seu logotipo. O jeito único de fazer death do Incantation consiste numa música extremamente pesada, suja, arrastada, quase doom, com vocais guturais cavernosos e letras com temáticas satânicas, anti-cristãs e ocultistas. O ápice dessa estética se encontra nos três primeiros álbuns – Onward to Golgotha, de 1992, Mortal Throne of Nazarene, 1994, e Upon the Throne of Apocalypse, de 1995. Na formação daquela época estava presente o vocalista Graig Pillard (Disma), dono de uma voz cavernosa e abissal que acabou se tornando um das marcas registradas dessa turma. Dos três discos citados, Mortal Throne of Nazarene, o segundo, leva todas as características dos caras aos píncaros do extremismo, tornando-se, provavelmente, a grande Magnus Opus dos gringos. De quebra, um dos maiores álbuns da história do death norte-americano e mundial. Diferente das escolas da Flórida e de Nova York, a banda privilegia o peso e as atmosferas, em detrimento da técnica. Formado por bons músicos, o Incantation não parte para o uso exagerado da velocidade, que sempre existiu no cenário extremo, para se concentrar em andamentos mais cadenciados e momentos mais lentos e pesados. Imagine ser arrastado por uma caverna escura com a presença de toda a malignidade possível e você terá uma vaga ideia de sons como “Demonic Incarnate”, uma verdadeira viagem arrastada para o abismo; “Emaciated Holy Figure” começa com blasts-beats enlouquecidos, guitarras em tremolo, o arroto infernal de Pillard, num andamento que flerta com o grindcore, para depois cair numa lentidão monolítica que deixaria o Black Sabbath com inveja; “Iconoclasm of Catholicism” começa com certa velocidade, alternando com andamentos menos acelerados; "Ibex Moon" possui um riff matador, tornando-se, com o passar dos anos, um dos grandes clássicos da banda. Além de Criag Pillard (vocais e guitarras) e John McEntee (guitarra), - big boss e único membro constante em todas formações, que hoje acumula a função de vocalista, a banda contava ainda com Dave Niedrist (baixo) e Jim Roe (bateria). A Incantation passou por várias reformulações e inumeráveis line-ups, lançando bons álbuns, como Diabolical Conquest, de 1998, porém sem repetir o brilho. Sem exageros, a formação do início dos anos de 1990 cometeu um dos álbuns mais pesados e sombrios já lançados, tornando-se referência para grandes artistas contemporâneos, como Nile. Você está em Belo Horizonte, e quer ver (e ouvir) o trabalho dos caras ao vivo? Simples, compareça ao Music Hall na próxima sexta-feira...


Confira: Incantation - Ibex Moon


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Som novo do Testament na área!


Uma banda digna de Big Four acaba de lançar uma nova patada. True American Hate é o primeiro single de Dark Roots of Earth, novo disco do Testament a ser lançado dia 27 de julho na Europa, e dia 31 de julho nos EUA, pela Nuclear Blast. O trampo foi produzido pelo lendário Andy Sneap (Megadeth, Arch Enemy) que já trabalhou com a banda no álbum anterior , The Formation of Damnation, de 2010. O disco será lançado em três formatos: CD, CD/DVD e vinil. Nos dois últimos há três covers das emblemáticas Scorpions, Queen e Iron Maiden. O quinteto hoje é composto por Gene Hoglan (Death, Dark Angel) substituindo Paul Bostaph nas baquetas. Chuck Billy (vocais), Alex Skolnick, Eric Petersen (guitarras) e Greg Christian (baixo) completam esse time de peso. A maravilhosa capa que vocês podem ver logo abaixo foi pintada pelo artista Eliran Cantor. A música apresentada nesse post revela um thrash metal moderno, melódico, com pitadas de death – principalmente nos vocais de Chuck Billy. Enquanto um dos discos mais aguardados de 2012 não sai, escute o petardo aqui no Curupira e tire suas conclusões.


Testament - True American Hate


domingo, 24 de junho de 2012

O Curupira tarda mas não falha: BH Metal Fest 2012


A tarde do primeiro domingo deste mês, 3, foi marcada por música de qualidade na capital. O BH Metal Fest apresentou uma pequena parte deste vasto e potencial celeiro de grupos promissores da cena mineira. Tocaram as bandas Dunkell Reitter, Hellcome, Helltrucker, Seawalker, Abate e Desperata. Como “plus” foram convidadas as gatinhas paulistanas da Nervosa, um power trio thrasheiro que vem conquistando corações e ouvidos dos headbangers Brasil adentro. O evento foi na casa de shows Matriz, outrora conhecido como Caverna, um antigo reduto que sempre acolheu bandas do underground, ou aquelas apenas em busca de mais visibilidade, um lugar pra tocar um som mesmo. Apesar de ser um local relativamente pequeno, existe todo o clima sugestivo para o banger acomodar-se à vontade: dois espaços distintos, se a banda for ruim, vá pro bar encher a cara ou laricar. O som do palco é muito eficiente, méritos do operador “dinossauro” Carlão, e ainda há um espaço legal pro mosh comer solto. Na tarde/noite em questão, o preço do ingresso estava bem acessível, só 16 reais. Como tocaram sete bandas, o preço era pouco mais de dois reais para ouvir cada. Claro, temos de levar em consideração que não há atração que deixe a logística mais salgada, são praticamente todas locais. Mas se a moda pegasse... Em um dia no qual a tradicional macarronada com frango e coca antecede a rotina mortal da segunda-feira, nada melhor do que exorcizar essa equação de tédio dominical com música de peso. Abate foi a primeira banda a levantar o estandarte (ops, rimou). Letras em português e muita vontade no palco compensaram esse quase obsoleto metalcore que alguns ainda insistem em tocar. Em um estilo que, na opinião do Curupira, o grande destaque fica sempre nos vocais furiosos, quem curte o som não se frustrou, pois os caras deram conta do recado.

Vale citar que a composição do cast para o BHMF permeou por vários segmentos do metal, indo do metalcore ao mais genuíno thrash. Isso apenas serve para corroborar o quão profícua é a cena belorizontina. A segunda que subiu ao palco foi a Desperata. Os caras fazem um lance bem heavy, com vocais limpos, e muita coisa de prog/melódico na parte musical. Um tipo de proposta que, se os músicos não forem bons, vai queimar o filme. Mas os apadrinhados de Cláudio David não fizeram feio. Por falar no guitarrista da lenda Overdose, foi executado o cover de Stranger in Our Own Land, que também fará parte de uma coletânea de bandas mineiras tocando hinos do primeiro esquadrão das Gerais. Ainda falando sobre cover, todos os grupos do dia fizeram suas homenagens. Algumas muito bem executadas; outras, uma vergonha. Mas nós acreditamos ser o som original o que define o potencial de uma banda, por isso vamos limitar nossos comentários de covers apenas ao Desperata, pelo cunho informativo da notícia, afinal, vem disco reverenciando o Overdose por aí.

Na sequência, duas efígies do inferno fizeram o público bangear pra cacete. Após um relativo intervalo, o Helltrucker retorna para reforçar a linha de frente na luta mineira pelo underground. Pancadaria que vai do thrash ao deathcore, remetendo à representações internacionais, como Job for a Cowboy e a legião death metal de Gotemburgo. Bela apresentação! Depois veio o Hellcome, que manteve a pegada carregada na testosterona musical. Um meio termo entre o thrash e o metalcore, carregado no groove. Trampo bem parecido com o que Robb Flynn faz no Machine Head, após deixar seus tempos de Vio-lence para trás. Todas as duas “hell” agradaram bastante o público, preparando para as que viriam a seguir.

A euforia tomava conta da casa quando as meninas da Nervosa subiram ao palco. O fascínio exercido pela banda talvez se explique pela singularidade da proposta. È claro que já vimos, antes, bandas de metal formadas por mulheres, como as veteranas do Volkana. Porém o som das paulistanas tem influências mais agressivas, que vão desde o thrash alemão, passando pelo grindcore do Napalm até desembocar nas praias imundas do crust e do punk. Toda essa “feiura” contrasta com a bela imagem das jovens Prika Amaral (guitarra e backing vocals), Fernanda Terra (bateria) e Fernada Lira (vocal, baixo). Ao vivo, o trio tem o punch do punk e do rock n roll, apresentando-se cheio de energia e garra, com palhetadas e ritmos que enlouqueceram o mosh pit. As meninas vêm confirmando o status de revelação do metal, calando a boca de vários detratores, com muito respeito pelo cenário nacional e mineiro.

Era chegado o momento da melhor banda do dia, na opinião deste ser da floresta. Talvez ser a melhor não é unanimidade, mas pelo menos estamos falando da mais longeva. Desde o fim do século passado os thrashers do Dunkell Reiter levantam a bandeira do underground, alheios a quaisquer dificuldades. Quando olhamos para a cena thrash mundial vigente, nomes como Vektor, Toxic Holocaust, Merciless Death são bons representantes do legado deixado por Marcel Schmier e Mike Sifringer. Se hoje o Destruction faz um som mais moderno, sem perder a pegada, as três bandas supracitadas, MAIS o Dunkell Reiter, mantêm a chama dos 1980´s acesa. Esse é um dos motivos do quão renovadora é a cena mineira (e brasileira), quando se trata de música extrema – não devemos nada para gringo algum. Divagações à parte, o quarteto de Contagem fez mais uma apresentação maravilhosa. Petardos, um atrás do outro, que fizeram os bangers dançar com vontade. Logo depois nossa equipe correu toda empolgada para entrevistar as gatinhas da Nervosa, que antes tiraram fotos com muitos fãs, numa total demonstração de carisma. Em breve postaremos a conversa com as garotas. Tal alvoroço custou apreciar o show do Seawalker, quando voltamos para o palco, eles estavam tocando a última música, um cover de Angel of Death. Mas nós compensaremos tal falha com uma resenha do recém trabalho deles, Earthcode. O comentário faz parte de uma semana que o Curupira escolheu para homenagear seis grupos da capital. De qualquer forma, quem pagou 16 reais para ver e ouvir sete bandas deve estar comemorando o lucro até hoje. Parabéns aos produtores do BH Metal Fest 2012!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Curupira Ouviu: Aura Noir, Out to Die


Um pouco de história. O trio surgiu na Noruega, em meados da década de 1990. Porém, apesar da colaboração de veteranos como Nattefrost, Nocturno Culto e Fenriz - além do grupo contar membros que já tocaram com Mayhem, Ulver, Immortal, entre outros - a banda não pratica mais o som típico daquelas clássicas do BM de outrora. O metal maldito persiste, é claro. Porém, desde o EP de estreia, Dreams like Desert, de 1995, vêm sendo adicionados elementos thrash, pitadas de death metal “old school”, punk e o tempero do indefectível rock and roll ao black metal. O resultado é uma releitura da estética oitentista que, se não prima pela originalidade, pelo menos tem uma identidade bem peculiar. Out to die, álbum lançado em março deste ano, acrescenta a essa fórmula mais ferocidade e uma produção caprichada que, aliás, não deixa a sujeira de lado. O disco traz a urgência dos primeiros lançamentos da banda, um black/thrash norueguês soando preciso e sem frescuras, mas lapidado pela maturidade alcançada depois de quase 20 anos de estrada. As faixas apresentam para a contemporaneidade todas as lições aprendidas com Sodom, Motorhead, Venom, (old) Kreator e outros deuses do velho mundo. O trampo dura pouco mais de meia hora – como todo clássico dos “eighties” que se preze – e as faixas são tão matadoras que não te deixam sequer respirar. Trenches abre o disco com algo do Sepultura na era Schizophrenia, com os vocais berrados que lembram o jeito singular de Max cantar. Priest's Hellish Fiend tem uma introdução parecida com Hit the Lights (Quem?), o pau quebra com mais tremolos de guitarra e bateria à velocidade da luz. Fed to the Flames tem alguns riffs a la Motorhead e levadas de guitarra cheias de cavalgadas. Abbadon, o primeiro single, poderia estar tranquilamente num álbum perdido do Possessed. Enfim, com recortes, homenagens e citações, o power trio, composto por Aggressor (guitarras e vocal), Apollyon (vocais, baixo e bateria) e Blasphemer (guitarras), construiu um maldito monstro de Frankenstein, rebimbando de vida, pus e fúria. Imperdível pra quem tem metal correndo nas veias!

Nota do Pé Virado: 9/10

Tracklist:

01 – Trenches

02 – Fed to the Flames

03 – Abbadon

04 – The Grin from the Gallows

05 – Withheld

06 – Priest’s Hellish Fiend

07 – Deathwish

08 – Out to Die

Aura Noir - Trenches


terça-feira, 12 de junho de 2012

Homenagem ao dia dos namorados: Leviathan - True Traitor, True Whore


O black metal estadunidense da ultima década, mais conhecido pela alcunha de USBM (United States Black Metal), vem se pautando por absorver e transformar as influências das bandas norueguesas de tempos anteriores. Grupos como Xasthur, Nachtmystium, Panopticon e Wolves in the Throne Room, levaram a estética escandinava a outro patamar, assimilando valores musicais alheios ao estilo (rock alternativo, jazz,) e explorando algumas características vigentes dos grupos nórdicos, como atmosferas e climas ambientais. Além disso, as esquadras norte-americanas da ultima geração vem elegendo diferentes temas líricos, além dos já explorados à exaustão pelos colegas europeus, como ocultismo, satanismo, mitologia e paganismo. Os artistas yankees escrevem sobre assuntos que estão ligados às experiências do homem contemporâneo: drogas, solidão, isolamento, depressão, misantropia, situações urbanas, epifanias abstratas, eco-ativismo, instituições sociais, entre outras mazelas que causam mal estar na civilização. Leviathan é um dos principais representantes dessa leva de músicos. Ao lado do Xasthur, one man band formada por Scott Conner (aka Malefic), o Leviathan ajudou a consolidar o subgênero depressive black metal, apostando em vários dos elementos musicais supracitados. Sobretudo, no ultimo álbum lançado, a banda trata de um tema bastante atípico dentro do metal negro: o amor. Não o estereótipo fofinho, propalado pelos meios de comunicação de massa ou por canções de música sertaneja. Mas, sim, um mergulho nos aspectos ambivalentes e anti-sociais desse – nem sempre – tão nobre sentimento. Wrest, ou melhor, dizendo, Jef Whitehead, é o único integrante da horda e o álbum True Traitor, True Whore, de 2011, é inspirado numa experiência recente na vida do cara. Ele passou um bom tempo em cana depois de ser acusado de estupro pela ex-namorada. Foi solto um tempo depois por falta de provas, mas a história com elementos violentos e pra lá de obscuros parece que ainda não se resolveu. O fato é que tudo pareceu bastante traumático para Wrest e, a partir dessa experiência quase-varg-vikerniana, ele compôs o álbum, uma catarse que te transporta para um mundo de dor, tristeza e raiva. Fazendo alusão aos aspectos libidinais, autodestrutivos e violentos do amor – tão decantados por pensadores como Shakespeare, Platão e Freud- o cara compôs pérolas, de títulos memoráveis, como Harlot Rises, Her Circle Is the Noose e Every Orifice Yawning Her Price. Nessa última, temos uma introdução de violões que remete a algo do rock psicodélico dos anos 1960, impressão essa que é logo desfeita pelos vocais grunhidos de Wrest, e toda uma instrumentação que beira o caótico. Grunhidos são percebidos, também, logo na primeira faixa do álbum, True Whorror, faixa cujo título traz em inglês a fusão das palavras horror e puta, antecipando todo o clima de repulsa, confusão e paixão doentia que atravessa o disco. Nessa mesma faixa, logo depois da introdução, os blasting beats comem solto, fazendo dela a mais próxima do black metal tradicional. Os vocais parecem ser gritos de agonia, dor e prazer – tudo ao mesmo tempo, numa odisseia aos confins mais insanos do desejo. Aliás, a atmosfera subjetiva presente desde o lançamento das primeiras demos e no primeiro full-lenght, The Tenth Sub Level of Suicide, de 2003, parece tomar ares de confissão e uma necessidade expressionista de exteriorizar uma pulsão psicótica. Tudo isso amparado por um instrumental que lembra uma briga de foices entre Darkthrone, os momentos mais sombrios e viajandões do Pink Floyd, e a música experimental. Porém, mais do que uma investigação sobre o lado traumático, obsessivo e doloroso de uma paixão devastadora, True Traitor, True Whore deve se tornar um marco para o black metal desta década, por se manter fiel ás raízes do estilo e, ao mesmo tempo, expandi-lo para outras fronteiras. O amor também tem o seu lado escuro. Ou como diria uma das melhores faixas do álbum: cada orifício tem seu preço!

Leviathan - Every Orifice Yawning Her Price


segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Curupira indica: Midnight, Satanic Royalty


Desde o final dos anos de 1990, o metal, assim como toda a indústria cultural, vem sendo assolado pela onda do revival. São várias propostas retrô que procuram resgatar os anos dourados do estilo, com bandas que revivem não apenas o som, mas até o apelo visual – patches, jaquetas, cinturões de bala etc – de tempos idos. Daí também surgem novas terminologias como old school e neo-thrash para enquadrar os artistas. Essa nostalgia toda nos brinda tanto com pastiches desnecessários, bem como excelentes grupos. Esse é o caso do Midnight, banda norte- americana formada em 2003 por Count Zigar (bateria), Filey the Kid (guitarra) e Athenar (vocal, guitarra e baixo). Depois de algumas demos, splits e compilações, o trio lançou seu primeiro full-lenght, Satanic Royalty, em 2011. Os gringos têm como influência os primórdios do metal extremo, quando grupos da NWOBHM (Venom, principalmente) e os pioneiros do thrash californiano (Metallica, Slayer, Exodus) começaram a fundir metal e punk britânicos. O resultado é de uma urgência que alterna a velocidade e momentos cadenciados a la Sabbath, combinados com um punch de rock n roll garageiro. O black metal também está presente no som do grupo, com suas raízes mais primitivas, em que pode-se perceber a influência de grupos como Hellhammer, early Bathory, e o já citado Venom. O grupo ainda faz referências aos primórdios do speed metal de bandas como Exciter. A reconfiguração dos elementos comentados, bem como timbre sujo das guitarras e o andamento de bateria d-beat, pode não soar original, mas é feita de maneira inteligente, honesta e com muito bom gosto. Faixas como Necromania, Rip this Hell e You can’t stop steel te fazem banguear até o seu pescoço e nuca ficarem doloridos. Egressos de Cleveland, Ohio, os caras criaram um álbum indicado para aqueles que apreciam a verdadeira essência do metal. Foi gravado em ano passado, mas parece que foi em 1981. Um trampo que é deliciosamente oitentista, porém sem soar datado. O Midnight – cujos membros, curiosamente, tocam encapuzados ao vivo – provou com esse lançamento que tem cara própria.

Midnight - Necromania

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Curupira foi: II Thrash Assault


A primeira noite do mês de junho foi marcada por muita chapação e headbanging em Belo Horizonte. A escola de thrash metal do velho continente enviou duas representações oitentistas e de renome mundial: as bandas Exumer e Artillery, esquadras respectivamente do grande celeiro alemão e da Dinamarca. O evento aconteceu na última sexta-feira, no Music Hall, numa quebradeira batizada como II Thrash Assault. E o nome é bem propício. Se voltarmos ao passado, nas primeiras décadas do metal, tudo ainda estava em formação. Subdivisões do estilo, como death, crossover, black, prog etc não eram tão evidenciados – tudo era heavy metal. Claro, com o passar dos anos, as definições foram ganhando forma e adeptos, até como as conhecemos hoje. No fim dos anos de 1970, a herança do Black Sabbath criou o New Wave of British Heavy Metal, que lançou, dentre outras bandas, os deuses Iron Maiden e Saxon. Black e death metal, mesmo com os principais nomes revelados na década de 1980, só conquistariam definitivamente o público no começo do decênio seguinte. Entretanto, se tivermos de escolher um sub estilo que representa muito bem os 1980´s, este é o thrash metal. Bebendo direto na fonte dos ingleses Motorhead, também das bandas punks do fim da década anterior, surgiu um fenômeno que aplica um verdadeiro açoite no corpo de quem o escuta – por isso o nome, Thrash! Nos Estados Unidos, grupos como Metallica, Exodus, (fucking) Slayer estabeleceram velocidade, peso e tudo que a música precisava para enlouquecer a juventude a partir da época. Na Europa, o grande foco era a Alemanha, especialmente a tríade de ouro, com Kreator, Sodom e Destruction, refletindo nos outros países do continente. E a noite mineira da sexta passada foi agraciada com duas bandas que respiraram toda aquela magia etílica do passado. As contemporâneas Artillery e Exumer têm, juntas, nove discos de estúdio gravados, os debuts são respectivamente datados em 1985 e 86. Tudo que poderia ser esperado, então, era por momentos de revival de um período clássico, cheios de energia tanto das bandas quanto do público. Mas o século é outro, e a realidade idem. Não há tanto mais daquela aura subversiva que pairava no ar, há quase 30 anos. Os músicos envelheceram, assim como os fãs que, em BH, não rejuvenescem com tanta facilidade. Mais uma vez a casa não estava cheia, muito longe disso, na verdade. Não obstante o lamento, é possível dizer que o saldo foi bastante positivo. Quem acompanha a cena sabe que thrash metal é o “filho” mais festivo e dançante do heavy metal. Festivo porque está muito associado à chapação desenfreada, tão ovacionada nas letras de bandas das antigas e também pelo comportamento dos músicos, alguns deles chafurdados por anos no vício pelo álcool. Dançante porque ninguém consegue ficar parado quando é açoitado, só resta bater cabeça e dar uns socos, geralmente pacíficos, por aí. E a conexão teutônica/dinamarquesa deu conta do recado. Os primeiros a subir ao palco foram os caras do Artillery. A formação atual conta com os irmãos fundadores Michael e Morten Stutzer (guitarras), o também genitor Carsten Nielsen (bateria), além de Peter Thorslund (baixo) e Soren Nico Adamsen (vocal). O set foi bem misturado, indo de trabalhos clássicos, como Terror Squad e By Inheritance, ao último disco, My Blood. Usando a tática de mesclar petardos antigos, seguidos de músicas recentes, a fórmula mais uma vez deu certo. Um fato curioso, e que confirma a longevidade das bandas que tocaram na noite, é que não havia cabeludos. Na verdade, o que mais se viu foram dois bandos de calvos mesmo. Nada que diminuísse a agressividade sugerida, The Challenge, Terror Squad e Into the Universe confirmaram bem a assertiva. Mesmo que sejam europeus, o som do Artillery remete muito mais ao biotipo americano, aquele praticado na famigerada Bay Area. Vale ressaltar que, desde 2007, a musicalidade da banda acabou tomando um novo direcionamento, por causa do vocalista. Até então, o principal cantor era Flemming Ronsdoff, que gravou os dois primeiros discos, os maravilhosos Fear of Tomorrow e Terror Squad, com seu estilo tipicamente thrash. Após algumas mudanças no posto, Soren assumiu o microfone e gravou os dois últimos registros. O detalhe é que o cara vem de uma escola melódica, já cantando em bandas “água com açúcar”, como Crystal Eyes. Apesar da ironia, o timbre do cantor caiu muito bem nas linhas thrasheiras dos dinamarqueses. Esse lance de revival é sempre bom para os dois lados, músicos e fãs. Como exemplo, o baterista Carsten sempre aparecia com uma máquina e pedia para o público gritar o nome da banda, enquanto ele filmava e fotografava. Antes de executar Khomaniac, o vocalista explica que todos estavam a 48 horas sem dormir, desde o Chile, por causa da cruel mistura entre turnê e conexões aéreas. Talvez por causa disso, nenhum dos caras ficou no local após a apresentação, todos pegaram suas coisas e saíram saindo... de qualquer forma, eles fizeram um excelente show, muito técnico e agressivo. Na sequência, sobem cinco sectários da melhor escola musical de toda a Europa. Pensem comigo sobre o quão profícua é a Alemanha, quando falamos de arte, em geral. No cinema, na música clássica, eletrônica, na pintura, enfim. Os germânicos compõem um país de vanguarda, que esbanja criatividade e bom gosto. Não somente, os caras são bem espertos, basta entender o quadro econômico europeu vigente, e quem comanda a bagaça por lá. Falando do que gostamos, lembre-se de quantas bandas maravilhosas foram cedidas pela Alemanha. Se contarmos, o número facilmente passa da casa dos 20... E Mem Von Stein (vocal), T. Schiavo (baixo), Matthias Kassner (bateria), Ray Mensh e H.K. (guitarras) sabem de onde vieram. Qualquer banda alemã dos 1980´s, quando tocar em BH, vai ser bem recebida. Contemporâneos de nomes do segundo escalão alemão, mas não menos importante, como Assassin e Holy Moses, os chucrutes do Exumer também botaram pra fuder no Music Hall. De 12, apenas três músicas do mais recente álbum, Fire & Damnation, foram tocadas. O restante foi baseado nos viscerais Possessed By Fire e Rising From the Sea, de 1986 e 87. Winds of Death abriu a sessão de riffs, linhas de baixo e bateria, tudo em extrema velocidade, bem como eles aprenderam na escola germânica. O vocalista Von Stein tem uma postura meio robótica em campo, um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. O cara parece mais um lutador de UFC, com movimentos bruscos enquanto cantava. Até mesmo a voz dele soava um pouco diferente, talvez por causa do cansaço, em função dos dois dias praticamente sem dormir. Mas o pau quebrou solto mesmo assim, o gordinho Ray não queria nem saber e debulhava nos acordes violentos, como nas clássicas Fallen Saint e I Dare You, alimentando a pequena, porém beligerante, roda. Matthias também deu sua grata contribuição com as baquetas, sua pegada é bem consistente. Após quase uma hora de riferama, os alemães saem e logo retornam para o encore. A escolha foi bem feita, Xiron Dark Star, seguida de Fire & Damnation. Possessed By Fire, o começo de tudo na carreira da banda, encerrou a noite em grande estilo. Ao final, os gringos até que ficaram para um rápido bate papo, coisa curta mesmo. Uma noite especial, devido à longevidade e relevância mundial das bandas que tocaram. Como dizemos aqui em Minas, “teve bão”.


Set Lists:

Artillery

1 – When Death Comes

2 – By Inheritance

3 – Death is An Illusion

4 – Mi Sangre (The Blood Song)

5 – Into the Universe

6 – The Chalenge

7 – 10.000 Devils

8 – Khomaniac

9 – Terror Squad

10 – The Almighty

Exumer

1 – Winds of Death

2 – Journey to Oblivion

3 – The Weakest Limb

4 – Fallen Saint

5 – Vermin of the Sky

6 – Sorrows of the Judgment

7 – A Mortal in Black

8 – New Morality

9 – I Dare You

10 – Xiron Dark Star

11 – Fire & Damnation

12 – Possessed By Fire

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Curupira ouviu: Marduk - Serpent Sermon


Uma das maiores e mais populares bandas de black metal acaba de soltar seu novo trabalho, Serpent Sermon, cujo lançamento mundial ocorreu no fim do mês passado. O álbum marca a primeira parceria entre a gravadora Century Media e o Blooddawn Productions, selo próprio do grupo – leia-se, do “big boss” Morgan Håkansson, guitarrista e membro fundador do Marduk. Para divulgá-lo, a horda apresentou um single e um clipe novo para a canção Souls for Belial. O disco é uma espécie de continuação do que foi feito em Wornwood, de 2009. O line-up é composto por Morgan (guitarras), Lars (bateria), Mortuus (vocais) e Devo (baixo). Essa formação tem aproximado o Marduk da produção de ponta do black metal vanguardista, com a banda incorporando elementos alheios ao metal da escuridão, como a música industrial e experimental. O grande lance aqui é que os caras não perderam sua identidade e provavelmente vão agradar tanto a galera mais radical e ortodoxa, quanto os fãs mais abertos do BM contemporâneo. Ao que tudo indica a entrada de Mortuus na banda, substituindo o grande Legion, permitiu que eles se reinventassem, absorvendo novos valores musicais, ao mesmo tempo mantendo a coerência e a simplicidade. Esse “bom gosto” se reflete tanto nas músicas, quanto na produção visual da banda (fotos de divulgação, configuração visual do site oficial, camisetas etc.). Dentro desta seara, o destaque vai, também, para a capa, uma das mais simples, belas e minimalistas que já produzida pelos suecos. O álbum é um equilíbrio entre a velocidade e a ferocidade de Panzer Division Marduk, com a experimentação de Rom 5: 12 e Wormwood. A banda alterna momentos de puro ódio e velocidades black metal com momentos mais atmosféricos, próximos ao lado mais experimental da atualidade. Não podemos esquecer que Morgan capitaneia, desde meados dos anos de 1990, uma das esquadras precursoras do black metal de vanguarda, o Abruptum. Serpent Sermon, no entanto, é mais direto que seus antecessores, apresentando músicas mais simples e cruas. Mas nem por isso ele se parece com o “norsecore” repetitivo de um Dark Funeral e seus clones: as músicas soam diferentes entre si e cada uma tem sua peculiaridade. Além disso, a produção, apesar de impecável, não deixa de lado aquela sujeira quase “raw”. O álbum abre com a faixa título, que tem uma introdução com batidas marciais e depois descamba para um riff bem Iron Maiden, seguido de um refrão grudento que provavelmente vai soar bem ao vivo: o cartão de entrada perfeito sobre o que vem a seguir; o single, Souls for Belial, tem uma introdução sutil, com vocais quase sussurrados e cavernosos que logo se transformam em algo na velocidade da luz, para depois retornar novamente à lentidão , aproximando a banda das mudanças bruscas de andamento, tão caras ao death metal; Temple of Decay é lenta, cadenciada e atmosférica, quase doom, uma faixa bem incomum na discografia da banda; “M.A.M.O.N.” lembra os momentos mais viajandões de Wormwood e Rom, se aproximando da vanguardice dos malucos do Deathspell Omega, com várias camadas, mudanças bruscas e esquisitas de tempo; Gospel of Worm é um equilíbrio entre as influências citadas acima e o típico Marduk da era Mortuus, pisando com força no acelerador; a próxima, World of Blades, contrabalança a velocidade da faixa anterior com ritmos cadenciados, violões, vocais com efeito de walkie-talkie, lembrando as experimentações que o grupo fez em Plague Angel, ao lado da banda martial/industrial sueca Arditi - que infelizmente, não se repetiu nesse álbum. Os suecos integram um seleto grupo de bandas escandinavas que praticam um black metal ortodoxo sem se render a clichês fáceis e fórmulas gastas, como Watain, Taake, Satanic Warmaster, Behexen e Horna. O álbum, em si, pode não ser uma obra-prima que vai mudar a sua vida, mas traz uma sonoridade concisa, madura e inteligente. Um dos melhores trampos - senão o melhor- que a atual formação já lançou.

Nota do Pé Virado: 8/10

Track List :

1. Serpent Sermon

2. Messianic Pestilence

3. Souls For Belial

4. Into Second Death

5. Temple Of Decay

6. Damnation's Gold

7. Hail Mary (Piss-soaked Genuflexion)

8. M.A.M.M.O.N

9. Gospel Of The Worm

10. World Of Blades

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