segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Curupira foi: Cogumelo Fest 2012 - Parte II




Sexta feira 13, dia do mau agouro. Provavelmente é uma introdução clichê, mas não dá para ignorar a data, perfeita para um bom show de metal extremo aqui na capital das alterosas. A segunda parte da Cogumelo Fest cumpriu a promessa de peso em BH, trazendo como atrações a lenda do death metal norte-americano Obituary - em sua quarta incursão por essas plagas -, o não menos legendário Acheron, o grindcore paulista do Desalmado e os heróis locais do Impurity. Com esse cast, o evento acenava a possibilidade de uma noite memorável. Mesmo com as atrações principais retornando à cidade, havia uma expectativa de público melhor para o segundo capítulo da saga. No primeiro, ocorrido uma semana antes, feriado, o fiasco foi total. Parcos gatos pingados compareceram, não fazendo jus ao estigma de “capital nacional do metal”, bordão já deixado de lado há tempos.

Mas, infelizmente, a promessa não se concretizou. Apesar da euforia presente nas redes sociais e de todo o burburinho que antecedeu ao show, o que se viu foi um Music Hall com público insatisfatório, jogando um balde de água fria na expectativa quanto ao registro de pagantes. Havia, é claro, um número maior de presentes em relação ao evento da semana passada. Naquela ocasião, o show marcado durante o feriadão trazia nomes relativamente desconhecidos pela grande audiência. Dessa vez, teríamos alguns ícones do death metal mundial além de importante banda local. Enfim, fatores que contribuiriam para um bom evento. Mesmo assim, a data vem somar uma lista de fiascos ocorridos nos últimos meses, quando podemos perceber um triste fenômeno: o esvaziamento dos shows, a aparente apatia e abandono dos bangers em relação à manutenção da cena. Realmente lastimável. Mas apesar do clima um tanto fúnebre – com direito a falsificação de ingressos, e a identificação do criminoso - as bandas envolvidas não deixaram a peteca cair e fizeram grandes apresentações.

Por problemas de logística, pegamos apenas o final do Impurity, primeira a subir ao palco. A casa, naquele momento, encontrava-se bastante vazia. Mesmo assim, foi possível assistir a dois petardos: Ecstasy Law e The Excommunication. Os mineiros detonaram seu clássico black/death metal (da safra final dos 1980’s e início dos 90’s ) com direito a corpse paint, visual a la Blasphemy (banda canadense fortemente influenciada por Sarcófago e outras hordas brasileiras oitentistas) e um traje ritualístico usado por Ram Priest – remetendo à Morte do filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman.
Na sequência, os paulistas do Desalmado fizeram um show bastante competente, apesar de destoar um pouco das outras atrações da noite. O grupo executa um gindcore básico, porém eficiente. Seu som remonta aos clássicos do Napalm Death, com nuances de Ratos de Porão. Eles tocaram aproximadamente uma dúzia de curtos torpedos, como manda a tradição grind. Show rápido, rasteiro e divertido. Destaque para o vocalista Caio Augusttus que, mesmo com a movimentação limitada, por causa de uma bota ortopédica, agitou e berrou pra cacete.
Era chegada a hora do ritual e a lenda cult do Acheron subia ao palco. Os gringos perpetraram um showzaço comandado pelo ex-reverendo da Church of Satan, Vincent Crowley. Os norte-americanos esbanjaram simpatia e carisma, comunicando-se com o público antes e depois do culto. O grupo detonou seu death/black sui generis, que só poderia ter sido criado há duas mágicas décadas. Apesar de hoje manterem sua base de operações em Cleveland, Ohio, esses loucos vieram de Tampa, Flórida, a meca do death metal. Apesar de não terem o mesmo reconhecimento de seus conterrâneos (Morbid Angel, Obituary, Deicide, Death) Crowley e seus asseclas criaram álbuns históricos e são simplesmente matadores ao vivo. Depois de um breve hiato, quando parou suas atividades em 2010, a banda voltou com força total naquele mesmo ano. A celebração foi superior à (ótima) feita por aqui em 2006, junto com os deuses suecos do Grave. A presença de simbologia anti-monoteísta – leia-se anti-cristianismo, judaísmo e islamismo – afixada em locais estratégicos do palco, chama atenção logo de cara. A banda entra no palco e fica de costas para a plateia, durante introdução presente no clássico de 1992, Rites of the Black Mass. Vem então Legions of Hatred, seguida de Thou Art Lord, que enlouquecem os presentes. Lá pelo meio do show, depois de tocarem o hino Ave Sathanas, começou a loucura:
Mr Crowley vem caminhando com uma bíblia nas mãos, parando em frente ao público com o “livro sagrado” em punho. De repente, ele começa a rasgar as páginas da incauta, executando o ritual convocado via internet dias antes, através de recado ao público brasileiro, por meio de O Curupira. Ele arremessa as rasgadas páginas ao público, que continua a destruí-las e incendiá-las com isqueiros. Durante a balbúrdia, Fuck the Ways of Christ deixa a apresentação no Music Hall com ares de missa negra. Inesquecível.
Depois desse espetáculo deliciosamente infernal é chegada a hora do Monstro do Pântano. O Obituary é um dos grandes representantes da música pesada, vindo da Flórida. Na fase áurea do estilo, a banda alcançou um sucesso tremendo, chegando ao que se convencionou chamar de mainstream do death metal. No início de carreira, pedradas como Slowly We Rot, Cause of Death e The End Complete tornaram-se discos obrigatórios. A apresentação do dia 13 passado, assim como as três anteriores na cidade, foi brutal. Os caras não têm segredos, com um som simples, calcado nos pioneiros do metal extremo (Venom, Celtic Frost, Possessed) eles podem ser considerados uma espécie de AC DC do death metal, pois nesses anos todos pouca coisa mudou na música oferecida. Uma boa justificativa para quem não se importa com mudanças, quando o som é agradável o suficiente. São riffs grudentos, um atrás do outro – cortersia da guitarra base, forjada em aço, de Trevor Peres -, a voz agonizante e única de John Tardy, e a bateria tribal de Donald Tardy. O baixista Terry Butler, ex-Death e Six Feet Under, e que voltará com o Massacre no fim do ano, substitui muito bem Frank Watkins, agora possuído pelo Gorgoroth. Lee Harrison, baterista no Monstrosity, ocupa a posição de guitar solo e sai até bem. Mas o cabeludo perde feio quando comparado ao mago Ralph Santolla, último dono do posto.
O show começa com a instrumental, e tradicional, Redneck Stomp. Depois, seguem-se clássico atrás de clássico, deixando todos sem fôlego. Vale lembrar que, assim como o Acheron, a banda não estava promovendo nenhum material novo, deixando espaço para as canções que todos amam. A apresentação foi praticamente um contínuo ensurdecedor, com poucas pausas e um solo (desnecessário) de bateria. O mosh pit comeu solto e, apesar do pouco comparecimento, foi ininterrupto e agradável. Destaques para a cover do Celtic Frost, Dethroned Emperor, também Dying, The End Complete (com seu final hipnotizante), Find the Arise e a apoteótica Slowly we Rot. Fabuloso, mais uma vez. Como ponto negativo, vale ressaltar a inacessibilidade dos Tardy brothers, que, ao contrário do colega Trevor Peres e dos caras do Acheron – especialmente Crowley -, mantiveram distância dos fãs. Uma pena. O Cogumelo Fest 2012 revela uma triste constatação: do jeito que a coisa anda, as pancadarias na cidade vão diminuir. A julgar pela pífia presença de bangers nos eventos, em particular nesse ano de 2012, o destino soa cruel. Apesar da choradeira de uns Edus Falachis da vida, se o público não voltar a apoiar a cena, comparecendo aos shows, comprando os álbuns e mantendo viva essa experiência coletiva mágica que é o metal, isso parece inevitável. Heavy metal não é música apenas. É um modo de observar o mundo, alheio a manipulações culturais. Pensem a respeito...




Vincent Crowley comenta o Show de BH para O Curupira.

Set Lists:

IMPURITY

1-Dedmon of Cruelty

2-Sabat

3-No fucking ressurrection

4-Blasphemy

5-Night of The torment in the Cemetery

6-Ecstasy Law

7-The excommunication

DESALMADO

1-Humanos

2-Em sua Honra

3-Cegueira Santa

4-Miséria Escravbatura

5-Eternidade do Medo

6-Cerveja

7-Juízo dos Fracos

8-Manto de sangue

9-Canibal social

10-Delírio

11-Matador

12-Todos vão Morrer

ACHERON

1-Intro

2-Legions of hatred

3-Thou Art Lord

4-Church of One

5-The Apocalypse

6-Ave Sathanas

7-Fuck the Ways of Christ

8-I am Heathen

9-Satan Holds Dominion

10-Lifeforce

11-Encore : Prayer of Hell

OBITUARY

1-Redneck Stomp

2-On the Floor

3-List of Dead

4-Blood to Give

5-Internal Bleeding

6-Chopped in Half

7-Turned Inside Out

8-Threatening Skies

9-Dying

10-By the Light

11-Find the Arise

12-Dethroned Emperor (Celtic frost cover)

13-The End Complete

14-Slowly we Rot

15-‘Til Death

16-Evil ways

17-Slow Death

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