quarta-feira, 27 de junho de 2012

Som novo do Testament na área!


Uma banda digna de Big Four acaba de lançar uma nova patada. True American Hate é o primeiro single de Dark Roots of Earth, novo disco do Testament a ser lançado dia 27 de julho na Europa, e dia 31 de julho nos EUA, pela Nuclear Blast. O trampo foi produzido pelo lendário Andy Sneap (Megadeth, Arch Enemy) que já trabalhou com a banda no álbum anterior , The Formation of Damnation, de 2010. O disco será lançado em três formatos: CD, CD/DVD e vinil. Nos dois últimos há três covers das emblemáticas Scorpions, Queen e Iron Maiden. O quinteto hoje é composto por Gene Hoglan (Death, Dark Angel) substituindo Paul Bostaph nas baquetas. Chuck Billy (vocais), Alex Skolnick, Eric Petersen (guitarras) e Greg Christian (baixo) completam esse time de peso. A maravilhosa capa que vocês podem ver logo abaixo foi pintada pelo artista Eliran Cantor. A música apresentada nesse post revela um thrash metal moderno, melódico, com pitadas de death – principalmente nos vocais de Chuck Billy. Enquanto um dos discos mais aguardados de 2012 não sai, escute o petardo aqui no Curupira e tire suas conclusões.


Testament - True American Hate


domingo, 24 de junho de 2012

O Curupira tarda mas não falha: BH Metal Fest 2012


A tarde do primeiro domingo deste mês, 3, foi marcada por música de qualidade na capital. O BH Metal Fest apresentou uma pequena parte deste vasto e potencial celeiro de grupos promissores da cena mineira. Tocaram as bandas Dunkell Reitter, Hellcome, Helltrucker, Seawalker, Abate e Desperata. Como “plus” foram convidadas as gatinhas paulistanas da Nervosa, um power trio thrasheiro que vem conquistando corações e ouvidos dos headbangers Brasil adentro. O evento foi na casa de shows Matriz, outrora conhecido como Caverna, um antigo reduto que sempre acolheu bandas do underground, ou aquelas apenas em busca de mais visibilidade, um lugar pra tocar um som mesmo. Apesar de ser um local relativamente pequeno, existe todo o clima sugestivo para o banger acomodar-se à vontade: dois espaços distintos, se a banda for ruim, vá pro bar encher a cara ou laricar. O som do palco é muito eficiente, méritos do operador “dinossauro” Carlão, e ainda há um espaço legal pro mosh comer solto. Na tarde/noite em questão, o preço do ingresso estava bem acessível, só 16 reais. Como tocaram sete bandas, o preço era pouco mais de dois reais para ouvir cada. Claro, temos de levar em consideração que não há atração que deixe a logística mais salgada, são praticamente todas locais. Mas se a moda pegasse... Em um dia no qual a tradicional macarronada com frango e coca antecede a rotina mortal da segunda-feira, nada melhor do que exorcizar essa equação de tédio dominical com música de peso. Abate foi a primeira banda a levantar o estandarte (ops, rimou). Letras em português e muita vontade no palco compensaram esse quase obsoleto metalcore que alguns ainda insistem em tocar. Em um estilo que, na opinião do Curupira, o grande destaque fica sempre nos vocais furiosos, quem curte o som não se frustrou, pois os caras deram conta do recado.

Vale citar que a composição do cast para o BHMF permeou por vários segmentos do metal, indo do metalcore ao mais genuíno thrash. Isso apenas serve para corroborar o quão profícua é a cena belorizontina. A segunda que subiu ao palco foi a Desperata. Os caras fazem um lance bem heavy, com vocais limpos, e muita coisa de prog/melódico na parte musical. Um tipo de proposta que, se os músicos não forem bons, vai queimar o filme. Mas os apadrinhados de Cláudio David não fizeram feio. Por falar no guitarrista da lenda Overdose, foi executado o cover de Stranger in Our Own Land, que também fará parte de uma coletânea de bandas mineiras tocando hinos do primeiro esquadrão das Gerais. Ainda falando sobre cover, todos os grupos do dia fizeram suas homenagens. Algumas muito bem executadas; outras, uma vergonha. Mas nós acreditamos ser o som original o que define o potencial de uma banda, por isso vamos limitar nossos comentários de covers apenas ao Desperata, pelo cunho informativo da notícia, afinal, vem disco reverenciando o Overdose por aí.

Na sequência, duas efígies do inferno fizeram o público bangear pra cacete. Após um relativo intervalo, o Helltrucker retorna para reforçar a linha de frente na luta mineira pelo underground. Pancadaria que vai do thrash ao deathcore, remetendo à representações internacionais, como Job for a Cowboy e a legião death metal de Gotemburgo. Bela apresentação! Depois veio o Hellcome, que manteve a pegada carregada na testosterona musical. Um meio termo entre o thrash e o metalcore, carregado no groove. Trampo bem parecido com o que Robb Flynn faz no Machine Head, após deixar seus tempos de Vio-lence para trás. Todas as duas “hell” agradaram bastante o público, preparando para as que viriam a seguir.

A euforia tomava conta da casa quando as meninas da Nervosa subiram ao palco. O fascínio exercido pela banda talvez se explique pela singularidade da proposta. È claro que já vimos, antes, bandas de metal formadas por mulheres, como as veteranas do Volkana. Porém o som das paulistanas tem influências mais agressivas, que vão desde o thrash alemão, passando pelo grindcore do Napalm até desembocar nas praias imundas do crust e do punk. Toda essa “feiura” contrasta com a bela imagem das jovens Prika Amaral (guitarra e backing vocals), Fernanda Terra (bateria) e Fernada Lira (vocal, baixo). Ao vivo, o trio tem o punch do punk e do rock n roll, apresentando-se cheio de energia e garra, com palhetadas e ritmos que enlouqueceram o mosh pit. As meninas vêm confirmando o status de revelação do metal, calando a boca de vários detratores, com muito respeito pelo cenário nacional e mineiro.

Era chegado o momento da melhor banda do dia, na opinião deste ser da floresta. Talvez ser a melhor não é unanimidade, mas pelo menos estamos falando da mais longeva. Desde o fim do século passado os thrashers do Dunkell Reiter levantam a bandeira do underground, alheios a quaisquer dificuldades. Quando olhamos para a cena thrash mundial vigente, nomes como Vektor, Toxic Holocaust, Merciless Death são bons representantes do legado deixado por Marcel Schmier e Mike Sifringer. Se hoje o Destruction faz um som mais moderno, sem perder a pegada, as três bandas supracitadas, MAIS o Dunkell Reiter, mantêm a chama dos 1980´s acesa. Esse é um dos motivos do quão renovadora é a cena mineira (e brasileira), quando se trata de música extrema – não devemos nada para gringo algum. Divagações à parte, o quarteto de Contagem fez mais uma apresentação maravilhosa. Petardos, um atrás do outro, que fizeram os bangers dançar com vontade. Logo depois nossa equipe correu toda empolgada para entrevistar as gatinhas da Nervosa, que antes tiraram fotos com muitos fãs, numa total demonstração de carisma. Em breve postaremos a conversa com as garotas. Tal alvoroço custou apreciar o show do Seawalker, quando voltamos para o palco, eles estavam tocando a última música, um cover de Angel of Death. Mas nós compensaremos tal falha com uma resenha do recém trabalho deles, Earthcode. O comentário faz parte de uma semana que o Curupira escolheu para homenagear seis grupos da capital. De qualquer forma, quem pagou 16 reais para ver e ouvir sete bandas deve estar comemorando o lucro até hoje. Parabéns aos produtores do BH Metal Fest 2012!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Curupira Ouviu: Aura Noir, Out to Die


Um pouco de história. O trio surgiu na Noruega, em meados da década de 1990. Porém, apesar da colaboração de veteranos como Nattefrost, Nocturno Culto e Fenriz - além do grupo contar membros que já tocaram com Mayhem, Ulver, Immortal, entre outros - a banda não pratica mais o som típico daquelas clássicas do BM de outrora. O metal maldito persiste, é claro. Porém, desde o EP de estreia, Dreams like Desert, de 1995, vêm sendo adicionados elementos thrash, pitadas de death metal “old school”, punk e o tempero do indefectível rock and roll ao black metal. O resultado é uma releitura da estética oitentista que, se não prima pela originalidade, pelo menos tem uma identidade bem peculiar. Out to die, álbum lançado em março deste ano, acrescenta a essa fórmula mais ferocidade e uma produção caprichada que, aliás, não deixa a sujeira de lado. O disco traz a urgência dos primeiros lançamentos da banda, um black/thrash norueguês soando preciso e sem frescuras, mas lapidado pela maturidade alcançada depois de quase 20 anos de estrada. As faixas apresentam para a contemporaneidade todas as lições aprendidas com Sodom, Motorhead, Venom, (old) Kreator e outros deuses do velho mundo. O trampo dura pouco mais de meia hora – como todo clássico dos “eighties” que se preze – e as faixas são tão matadoras que não te deixam sequer respirar. Trenches abre o disco com algo do Sepultura na era Schizophrenia, com os vocais berrados que lembram o jeito singular de Max cantar. Priest's Hellish Fiend tem uma introdução parecida com Hit the Lights (Quem?), o pau quebra com mais tremolos de guitarra e bateria à velocidade da luz. Fed to the Flames tem alguns riffs a la Motorhead e levadas de guitarra cheias de cavalgadas. Abbadon, o primeiro single, poderia estar tranquilamente num álbum perdido do Possessed. Enfim, com recortes, homenagens e citações, o power trio, composto por Aggressor (guitarras e vocal), Apollyon (vocais, baixo e bateria) e Blasphemer (guitarras), construiu um maldito monstro de Frankenstein, rebimbando de vida, pus e fúria. Imperdível pra quem tem metal correndo nas veias!

Nota do Pé Virado: 9/10

Tracklist:

01 – Trenches

02 – Fed to the Flames

03 – Abbadon

04 – The Grin from the Gallows

05 – Withheld

06 – Priest’s Hellish Fiend

07 – Deathwish

08 – Out to Die

Aura Noir - Trenches


terça-feira, 12 de junho de 2012

Homenagem ao dia dos namorados: Leviathan - True Traitor, True Whore


O black metal estadunidense da ultima década, mais conhecido pela alcunha de USBM (United States Black Metal), vem se pautando por absorver e transformar as influências das bandas norueguesas de tempos anteriores. Grupos como Xasthur, Nachtmystium, Panopticon e Wolves in the Throne Room, levaram a estética escandinava a outro patamar, assimilando valores musicais alheios ao estilo (rock alternativo, jazz,) e explorando algumas características vigentes dos grupos nórdicos, como atmosferas e climas ambientais. Além disso, as esquadras norte-americanas da ultima geração vem elegendo diferentes temas líricos, além dos já explorados à exaustão pelos colegas europeus, como ocultismo, satanismo, mitologia e paganismo. Os artistas yankees escrevem sobre assuntos que estão ligados às experiências do homem contemporâneo: drogas, solidão, isolamento, depressão, misantropia, situações urbanas, epifanias abstratas, eco-ativismo, instituições sociais, entre outras mazelas que causam mal estar na civilização. Leviathan é um dos principais representantes dessa leva de músicos. Ao lado do Xasthur, one man band formada por Scott Conner (aka Malefic), o Leviathan ajudou a consolidar o subgênero depressive black metal, apostando em vários dos elementos musicais supracitados. Sobretudo, no ultimo álbum lançado, a banda trata de um tema bastante atípico dentro do metal negro: o amor. Não o estereótipo fofinho, propalado pelos meios de comunicação de massa ou por canções de música sertaneja. Mas, sim, um mergulho nos aspectos ambivalentes e anti-sociais desse – nem sempre – tão nobre sentimento. Wrest, ou melhor, dizendo, Jef Whitehead, é o único integrante da horda e o álbum True Traitor, True Whore, de 2011, é inspirado numa experiência recente na vida do cara. Ele passou um bom tempo em cana depois de ser acusado de estupro pela ex-namorada. Foi solto um tempo depois por falta de provas, mas a história com elementos violentos e pra lá de obscuros parece que ainda não se resolveu. O fato é que tudo pareceu bastante traumático para Wrest e, a partir dessa experiência quase-varg-vikerniana, ele compôs o álbum, uma catarse que te transporta para um mundo de dor, tristeza e raiva. Fazendo alusão aos aspectos libidinais, autodestrutivos e violentos do amor – tão decantados por pensadores como Shakespeare, Platão e Freud- o cara compôs pérolas, de títulos memoráveis, como Harlot Rises, Her Circle Is the Noose e Every Orifice Yawning Her Price. Nessa última, temos uma introdução de violões que remete a algo do rock psicodélico dos anos 1960, impressão essa que é logo desfeita pelos vocais grunhidos de Wrest, e toda uma instrumentação que beira o caótico. Grunhidos são percebidos, também, logo na primeira faixa do álbum, True Whorror, faixa cujo título traz em inglês a fusão das palavras horror e puta, antecipando todo o clima de repulsa, confusão e paixão doentia que atravessa o disco. Nessa mesma faixa, logo depois da introdução, os blasting beats comem solto, fazendo dela a mais próxima do black metal tradicional. Os vocais parecem ser gritos de agonia, dor e prazer – tudo ao mesmo tempo, numa odisseia aos confins mais insanos do desejo. Aliás, a atmosfera subjetiva presente desde o lançamento das primeiras demos e no primeiro full-lenght, The Tenth Sub Level of Suicide, de 2003, parece tomar ares de confissão e uma necessidade expressionista de exteriorizar uma pulsão psicótica. Tudo isso amparado por um instrumental que lembra uma briga de foices entre Darkthrone, os momentos mais sombrios e viajandões do Pink Floyd, e a música experimental. Porém, mais do que uma investigação sobre o lado traumático, obsessivo e doloroso de uma paixão devastadora, True Traitor, True Whore deve se tornar um marco para o black metal desta década, por se manter fiel ás raízes do estilo e, ao mesmo tempo, expandi-lo para outras fronteiras. O amor também tem o seu lado escuro. Ou como diria uma das melhores faixas do álbum: cada orifício tem seu preço!

Leviathan - Every Orifice Yawning Her Price


segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Curupira indica: Midnight, Satanic Royalty


Desde o final dos anos de 1990, o metal, assim como toda a indústria cultural, vem sendo assolado pela onda do revival. São várias propostas retrô que procuram resgatar os anos dourados do estilo, com bandas que revivem não apenas o som, mas até o apelo visual – patches, jaquetas, cinturões de bala etc – de tempos idos. Daí também surgem novas terminologias como old school e neo-thrash para enquadrar os artistas. Essa nostalgia toda nos brinda tanto com pastiches desnecessários, bem como excelentes grupos. Esse é o caso do Midnight, banda norte- americana formada em 2003 por Count Zigar (bateria), Filey the Kid (guitarra) e Athenar (vocal, guitarra e baixo). Depois de algumas demos, splits e compilações, o trio lançou seu primeiro full-lenght, Satanic Royalty, em 2011. Os gringos têm como influência os primórdios do metal extremo, quando grupos da NWOBHM (Venom, principalmente) e os pioneiros do thrash californiano (Metallica, Slayer, Exodus) começaram a fundir metal e punk britânicos. O resultado é de uma urgência que alterna a velocidade e momentos cadenciados a la Sabbath, combinados com um punch de rock n roll garageiro. O black metal também está presente no som do grupo, com suas raízes mais primitivas, em que pode-se perceber a influência de grupos como Hellhammer, early Bathory, e o já citado Venom. O grupo ainda faz referências aos primórdios do speed metal de bandas como Exciter. A reconfiguração dos elementos comentados, bem como timbre sujo das guitarras e o andamento de bateria d-beat, pode não soar original, mas é feita de maneira inteligente, honesta e com muito bom gosto. Faixas como Necromania, Rip this Hell e You can’t stop steel te fazem banguear até o seu pescoço e nuca ficarem doloridos. Egressos de Cleveland, Ohio, os caras criaram um álbum indicado para aqueles que apreciam a verdadeira essência do metal. Foi gravado em ano passado, mas parece que foi em 1981. Um trampo que é deliciosamente oitentista, porém sem soar datado. O Midnight – cujos membros, curiosamente, tocam encapuzados ao vivo – provou com esse lançamento que tem cara própria.

Midnight - Necromania

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Curupira foi: II Thrash Assault


A primeira noite do mês de junho foi marcada por muita chapação e headbanging em Belo Horizonte. A escola de thrash metal do velho continente enviou duas representações oitentistas e de renome mundial: as bandas Exumer e Artillery, esquadras respectivamente do grande celeiro alemão e da Dinamarca. O evento aconteceu na última sexta-feira, no Music Hall, numa quebradeira batizada como II Thrash Assault. E o nome é bem propício. Se voltarmos ao passado, nas primeiras décadas do metal, tudo ainda estava em formação. Subdivisões do estilo, como death, crossover, black, prog etc não eram tão evidenciados – tudo era heavy metal. Claro, com o passar dos anos, as definições foram ganhando forma e adeptos, até como as conhecemos hoje. No fim dos anos de 1970, a herança do Black Sabbath criou o New Wave of British Heavy Metal, que lançou, dentre outras bandas, os deuses Iron Maiden e Saxon. Black e death metal, mesmo com os principais nomes revelados na década de 1980, só conquistariam definitivamente o público no começo do decênio seguinte. Entretanto, se tivermos de escolher um sub estilo que representa muito bem os 1980´s, este é o thrash metal. Bebendo direto na fonte dos ingleses Motorhead, também das bandas punks do fim da década anterior, surgiu um fenômeno que aplica um verdadeiro açoite no corpo de quem o escuta – por isso o nome, Thrash! Nos Estados Unidos, grupos como Metallica, Exodus, (fucking) Slayer estabeleceram velocidade, peso e tudo que a música precisava para enlouquecer a juventude a partir da época. Na Europa, o grande foco era a Alemanha, especialmente a tríade de ouro, com Kreator, Sodom e Destruction, refletindo nos outros países do continente. E a noite mineira da sexta passada foi agraciada com duas bandas que respiraram toda aquela magia etílica do passado. As contemporâneas Artillery e Exumer têm, juntas, nove discos de estúdio gravados, os debuts são respectivamente datados em 1985 e 86. Tudo que poderia ser esperado, então, era por momentos de revival de um período clássico, cheios de energia tanto das bandas quanto do público. Mas o século é outro, e a realidade idem. Não há tanto mais daquela aura subversiva que pairava no ar, há quase 30 anos. Os músicos envelheceram, assim como os fãs que, em BH, não rejuvenescem com tanta facilidade. Mais uma vez a casa não estava cheia, muito longe disso, na verdade. Não obstante o lamento, é possível dizer que o saldo foi bastante positivo. Quem acompanha a cena sabe que thrash metal é o “filho” mais festivo e dançante do heavy metal. Festivo porque está muito associado à chapação desenfreada, tão ovacionada nas letras de bandas das antigas e também pelo comportamento dos músicos, alguns deles chafurdados por anos no vício pelo álcool. Dançante porque ninguém consegue ficar parado quando é açoitado, só resta bater cabeça e dar uns socos, geralmente pacíficos, por aí. E a conexão teutônica/dinamarquesa deu conta do recado. Os primeiros a subir ao palco foram os caras do Artillery. A formação atual conta com os irmãos fundadores Michael e Morten Stutzer (guitarras), o também genitor Carsten Nielsen (bateria), além de Peter Thorslund (baixo) e Soren Nico Adamsen (vocal). O set foi bem misturado, indo de trabalhos clássicos, como Terror Squad e By Inheritance, ao último disco, My Blood. Usando a tática de mesclar petardos antigos, seguidos de músicas recentes, a fórmula mais uma vez deu certo. Um fato curioso, e que confirma a longevidade das bandas que tocaram na noite, é que não havia cabeludos. Na verdade, o que mais se viu foram dois bandos de calvos mesmo. Nada que diminuísse a agressividade sugerida, The Challenge, Terror Squad e Into the Universe confirmaram bem a assertiva. Mesmo que sejam europeus, o som do Artillery remete muito mais ao biotipo americano, aquele praticado na famigerada Bay Area. Vale ressaltar que, desde 2007, a musicalidade da banda acabou tomando um novo direcionamento, por causa do vocalista. Até então, o principal cantor era Flemming Ronsdoff, que gravou os dois primeiros discos, os maravilhosos Fear of Tomorrow e Terror Squad, com seu estilo tipicamente thrash. Após algumas mudanças no posto, Soren assumiu o microfone e gravou os dois últimos registros. O detalhe é que o cara vem de uma escola melódica, já cantando em bandas “água com açúcar”, como Crystal Eyes. Apesar da ironia, o timbre do cantor caiu muito bem nas linhas thrasheiras dos dinamarqueses. Esse lance de revival é sempre bom para os dois lados, músicos e fãs. Como exemplo, o baterista Carsten sempre aparecia com uma máquina e pedia para o público gritar o nome da banda, enquanto ele filmava e fotografava. Antes de executar Khomaniac, o vocalista explica que todos estavam a 48 horas sem dormir, desde o Chile, por causa da cruel mistura entre turnê e conexões aéreas. Talvez por causa disso, nenhum dos caras ficou no local após a apresentação, todos pegaram suas coisas e saíram saindo... de qualquer forma, eles fizeram um excelente show, muito técnico e agressivo. Na sequência, sobem cinco sectários da melhor escola musical de toda a Europa. Pensem comigo sobre o quão profícua é a Alemanha, quando falamos de arte, em geral. No cinema, na música clássica, eletrônica, na pintura, enfim. Os germânicos compõem um país de vanguarda, que esbanja criatividade e bom gosto. Não somente, os caras são bem espertos, basta entender o quadro econômico europeu vigente, e quem comanda a bagaça por lá. Falando do que gostamos, lembre-se de quantas bandas maravilhosas foram cedidas pela Alemanha. Se contarmos, o número facilmente passa da casa dos 20... E Mem Von Stein (vocal), T. Schiavo (baixo), Matthias Kassner (bateria), Ray Mensh e H.K. (guitarras) sabem de onde vieram. Qualquer banda alemã dos 1980´s, quando tocar em BH, vai ser bem recebida. Contemporâneos de nomes do segundo escalão alemão, mas não menos importante, como Assassin e Holy Moses, os chucrutes do Exumer também botaram pra fuder no Music Hall. De 12, apenas três músicas do mais recente álbum, Fire & Damnation, foram tocadas. O restante foi baseado nos viscerais Possessed By Fire e Rising From the Sea, de 1986 e 87. Winds of Death abriu a sessão de riffs, linhas de baixo e bateria, tudo em extrema velocidade, bem como eles aprenderam na escola germânica. O vocalista Von Stein tem uma postura meio robótica em campo, um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. O cara parece mais um lutador de UFC, com movimentos bruscos enquanto cantava. Até mesmo a voz dele soava um pouco diferente, talvez por causa do cansaço, em função dos dois dias praticamente sem dormir. Mas o pau quebrou solto mesmo assim, o gordinho Ray não queria nem saber e debulhava nos acordes violentos, como nas clássicas Fallen Saint e I Dare You, alimentando a pequena, porém beligerante, roda. Matthias também deu sua grata contribuição com as baquetas, sua pegada é bem consistente. Após quase uma hora de riferama, os alemães saem e logo retornam para o encore. A escolha foi bem feita, Xiron Dark Star, seguida de Fire & Damnation. Possessed By Fire, o começo de tudo na carreira da banda, encerrou a noite em grande estilo. Ao final, os gringos até que ficaram para um rápido bate papo, coisa curta mesmo. Uma noite especial, devido à longevidade e relevância mundial das bandas que tocaram. Como dizemos aqui em Minas, “teve bão”.


Set Lists:

Artillery

1 – When Death Comes

2 – By Inheritance

3 – Death is An Illusion

4 – Mi Sangre (The Blood Song)

5 – Into the Universe

6 – The Chalenge

7 – 10.000 Devils

8 – Khomaniac

9 – Terror Squad

10 – The Almighty

Exumer

1 – Winds of Death

2 – Journey to Oblivion

3 – The Weakest Limb

4 – Fallen Saint

5 – Vermin of the Sky

6 – Sorrows of the Judgment

7 – A Mortal in Black

8 – New Morality

9 – I Dare You

10 – Xiron Dark Star

11 – Fire & Damnation

12 – Possessed By Fire

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Curupira ouviu: Marduk - Serpent Sermon


Uma das maiores e mais populares bandas de black metal acaba de soltar seu novo trabalho, Serpent Sermon, cujo lançamento mundial ocorreu no fim do mês passado. O álbum marca a primeira parceria entre a gravadora Century Media e o Blooddawn Productions, selo próprio do grupo – leia-se, do “big boss” Morgan Håkansson, guitarrista e membro fundador do Marduk. Para divulgá-lo, a horda apresentou um single e um clipe novo para a canção Souls for Belial. O disco é uma espécie de continuação do que foi feito em Wornwood, de 2009. O line-up é composto por Morgan (guitarras), Lars (bateria), Mortuus (vocais) e Devo (baixo). Essa formação tem aproximado o Marduk da produção de ponta do black metal vanguardista, com a banda incorporando elementos alheios ao metal da escuridão, como a música industrial e experimental. O grande lance aqui é que os caras não perderam sua identidade e provavelmente vão agradar tanto a galera mais radical e ortodoxa, quanto os fãs mais abertos do BM contemporâneo. Ao que tudo indica a entrada de Mortuus na banda, substituindo o grande Legion, permitiu que eles se reinventassem, absorvendo novos valores musicais, ao mesmo tempo mantendo a coerência e a simplicidade. Esse “bom gosto” se reflete tanto nas músicas, quanto na produção visual da banda (fotos de divulgação, configuração visual do site oficial, camisetas etc.). Dentro desta seara, o destaque vai, também, para a capa, uma das mais simples, belas e minimalistas que já produzida pelos suecos. O álbum é um equilíbrio entre a velocidade e a ferocidade de Panzer Division Marduk, com a experimentação de Rom 5: 12 e Wormwood. A banda alterna momentos de puro ódio e velocidades black metal com momentos mais atmosféricos, próximos ao lado mais experimental da atualidade. Não podemos esquecer que Morgan capitaneia, desde meados dos anos de 1990, uma das esquadras precursoras do black metal de vanguarda, o Abruptum. Serpent Sermon, no entanto, é mais direto que seus antecessores, apresentando músicas mais simples e cruas. Mas nem por isso ele se parece com o “norsecore” repetitivo de um Dark Funeral e seus clones: as músicas soam diferentes entre si e cada uma tem sua peculiaridade. Além disso, a produção, apesar de impecável, não deixa de lado aquela sujeira quase “raw”. O álbum abre com a faixa título, que tem uma introdução com batidas marciais e depois descamba para um riff bem Iron Maiden, seguido de um refrão grudento que provavelmente vai soar bem ao vivo: o cartão de entrada perfeito sobre o que vem a seguir; o single, Souls for Belial, tem uma introdução sutil, com vocais quase sussurrados e cavernosos que logo se transformam em algo na velocidade da luz, para depois retornar novamente à lentidão , aproximando a banda das mudanças bruscas de andamento, tão caras ao death metal; Temple of Decay é lenta, cadenciada e atmosférica, quase doom, uma faixa bem incomum na discografia da banda; “M.A.M.O.N.” lembra os momentos mais viajandões de Wormwood e Rom, se aproximando da vanguardice dos malucos do Deathspell Omega, com várias camadas, mudanças bruscas e esquisitas de tempo; Gospel of Worm é um equilíbrio entre as influências citadas acima e o típico Marduk da era Mortuus, pisando com força no acelerador; a próxima, World of Blades, contrabalança a velocidade da faixa anterior com ritmos cadenciados, violões, vocais com efeito de walkie-talkie, lembrando as experimentações que o grupo fez em Plague Angel, ao lado da banda martial/industrial sueca Arditi - que infelizmente, não se repetiu nesse álbum. Os suecos integram um seleto grupo de bandas escandinavas que praticam um black metal ortodoxo sem se render a clichês fáceis e fórmulas gastas, como Watain, Taake, Satanic Warmaster, Behexen e Horna. O álbum, em si, pode não ser uma obra-prima que vai mudar a sua vida, mas traz uma sonoridade concisa, madura e inteligente. Um dos melhores trampos - senão o melhor- que a atual formação já lançou.

Nota do Pé Virado: 8/10

Track List :

1. Serpent Sermon

2. Messianic Pestilence

3. Souls For Belial

4. Into Second Death

5. Temple Of Decay

6. Damnation's Gold

7. Hail Mary (Piss-soaked Genuflexion)

8. M.A.M.M.O.N

9. Gospel Of The Worm

10. World Of Blades

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O Curupira agenda: Caravaggio, O Mestre das Trevas exibido em Belo Horizonte


Está acontecendo na capital, desde o dia 22 de maio, na casa Fiat de Cultura, a exposição “Caravaggio e seus Seguidores”. A mostra é uma bela oportunidade de ver um dos mais revolucionários, transgressores e misteriosos pintores da história da arte ocidental, um mestre do barroco europeu que estava muito a frente do seu tempo. Michelangelo Merisi (1571-1610), natural de Milão, Itália, ficou conhecido pelo nome da cidade natal de seus pais, Caravaggio. Desde cedo, exibiu um enorme talento, ganhando reconhecimento pelo seu modo de pintar virtuose. A pintura de Caravaggio é considerada o ápice, a apoteose do que se convencionou chamar barroco, causando choque na época em que viveu (entre os séculos XVI e XVII) e adquirindo o status de maldita. Como a maioria dos pintores de sua época na Europa, Caravaggio trabalhava sobre encomenda para a Igreja e para a aristocracia. Alternando entre temas mitológicos e religiosos, o pintor exibia em suas telas um realismo jamais visto antes, fato que acabou influenciando toda a arte que veio depois dele. Seus personagens bíblicos e mitológicos exibem um aspecto mundano, cheio de rostos comuns; o artista usava mendigos, prostitutas, bêbados e outras figuras a margem da sociedade, como modelos, ultrapassando o idealismo greco-romano, então vigente na arte europeia. Através do uso dramático e exagerado do artifício chamado claro-escuro – usado como metáfora sobre, entre outras coisas, o lado obscuro do ser humano –, expondo uma teatralidade exuberante, carregada de elementos contrastantes, ambivalências formais e simbólicas, como fé, culpa redenção, violência explícita, luxúria, blasfêmia e heresia, a obra não agradou nem um pouco a Igreja Romana e a sociedade da época, causando escândalo. Como se não bastasse, a biografia de Caravaggio ainda é permeada por brigas, bebedeiras homéricas, prisões e até um assassinato, mal esclarecido, cometido pelo pintor. Morto prematuramente, de causa desconhecida (especula-se de que tenha sido assassinado), o italiano carregou por séculos a pecha de maldito, devido aos fatores listados acima, sendo redescoberto pelo sistema de arte somente em meados do século 19. Esse currículo o torna um dos precursores da atitude metal de confrontar e transgredir os valores estabelecidos e a hipocrisia da moral cristã. Cheia de lascívia, desejo, caveiras, sangue, morte e trevas o legado do artista é influencia notória para artistas e ilustradores ligados ao estilo, como Derek Riggs (Iron Maiden), Ed Repka (Death, Megadeth), Larry Carroll (Slayer) entre outros. Bandas já usaram suas imagens em capas de álbuns, como o grupo brasileiro Heresia 666, que colocou a tela “Salomé com a Cabeça de João Batista” para ilustrar a capa de seu full lenght, Ad Vindictam, de 2011. O público banger, ao contrário dos estereótipos propagados pela sociedade, é tradicionalmente ligado a elementos que transcendem a música, como artes visuais (presentes em capas de álbum, no visual agressivo etc.), sem falar de outras referencias eruditas (música clássica, pintura, filosofia). Desta maneira, não precisa dizer que o rolé do Caravaggio é um programa mais do que obrigatório. A exposição, uma das maiores já realizadas sobre o artista na América Latina, conta ainda com seguidores póstumos da obra de Caravaggio, como Gentileschi, Baglione e Borgagianni, fica em cartaz até o dia 17 de julho. A entrada é gratuita. Muito bem recomendado na floresta...

Mais informações no site da Casa Fiat de Cultura

http://casafiat.com.br/exposicao.php?id=76&fb_source=message


Caravaggio na Casa Fiat

domingo, 3 de junho de 2012

Mais um domingo para bateção de cabeça em Belo Horizonte


Uma reclamação constante do público headbanger sobre a dificuldade para ir em shows está, geralmente, associada ao preço dos ingressos, às vezes bem salgados. Mas hoje não tem desculpa! Pela bagatela de 16 reais você tem a possibilidade de assistir bandas que realmente aquecem o cenário mineiro. Não somente, uma atração especial, três gatinhas tocando o mais genuíno thrash metal. O BH Metal Fest tem a participação das representações Dunkell Reiter, Helltrucker, Abate, Desperata, Hellcome e Seawalker. Como headline, o trio paulistano de female thrashers do Nervosa. Tudo isso, repetindo, pelo preço de 16 reais! Não há como reclamar dessa vez...

Quem: BH Metal Fest, com as bandas Dunkell Reiter, Helltrucker, Hellcome, Abate, Desperata, Seawalker e Nervosa.

Quando: Daqui a pouquinho, nesse domingão, às 14 horas.

Onde: Matriz, rua Guajajaras, 1353 – Centro, BHTE. 31 3212 6122

Quanto: 16 reais, pagos na entrada.

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