domingo, 13 de maio de 2012

Nocturnal Depression traz melancolia e blasfêmia para Belo Horizonte


Hora de rebaixar o espírito e nivelar-se com algo obscuro que emana do universo. O Enlevo dos Encontros Sorumbáticos, Ato II, serviu como uma catarse coletiva, o canto único ao lado profano, existente em cada um de nós. O evento aconteceu na primeira sexta-feira de maio, 4, e contou a apresentação das bandas Aasverus, Abasbaron, Martírio, Tristes Terminus e, como headliner, a francesa Nocturnal Depression, pela primeira vez em BH. Os hermanos do Wolves Winter também estavam agendados para a noite, mas tiveram problemas ainda na Argentina e nem viajaram. Segundo os caras, eles perderam alguns instrumentos, furtados dias antes, e não conseguiram resolver a tempo. Mas antes de falar dos shows, vale citar o local onde ocorreram. Um galpão velho na avenida Amazonas, localizado na divisa entre BH e Contagem, uma região industrial sem vida, mesmo com a passagem diária de milhares de pessoas, por causa do trânsito. Visualmente falando, uma pequena Birmingham, berço europeu do metal, bem mineira. Durante o dia, um caos no tráfego, muitas vezes com acidentes e mortes, já que o trecho é bastante perigoso. À noite, a movimentação de veículos diminui, mas ainda é nociva. Tudo em um ambiente onde não há casas; apenas imóveis abandonados, além de parcos e antigos estabelecimentos comerciais. Ingredientes sugestivos para alimentar a cena extrema, alheia a qualquer detalhe que revele alguma noção estética de mercado.
Aasverus foi a horda escalada para ciceronear a noite. Não somente pelo fato de ser a primeira a tocar, mas também por terem trazido a turnê do Nocturnal para BH. É muito bom saber que existem pessoas interessadas em abastecer o underground com música e iniciativas que fortalecem os elos. Um “evil” do it yourself é sempre bem vindo. Falando da apresentação em si, o grande lance dos caras é conseguir atrair pelo rito. Muito se fala que o som é arrastadaço, demorado, por isso um pouco cansativo. Uai, Funeral Doom Metal é isso daí mesmo, não se pode esperar outra coisa. Mas dá pra curtir, sim, ainda mais com todo o aspecto teatral que envolve a apresentação. Velas espalhadas na linha de frente, cores vermelha e preta. Os incensos eram responsáveis por um odor inebriante, que dava até um barato quando associado à música. A indefectível maquiagem obscura e uma competente postura de palco garantem a atitude dos músicos.
Logo depois sobem os veteranos da região do Barreiro, Abasbaron. Black/death que desde os anos de 1990 merece respeito. Petardos cheios de agressividade, cadenciados entre blast beats e passagens mais épicas, bem pra banguear mesmo. Músicos já com seus trinta e tantos anos, quiçá 40, que deixaram as longas madeixas pra trás há muito tempo. Tímidas rodas começaram a ganhar coragem e força, e dali a coisa apenas melhoraria. Uma apresentação do caralho, bem voltada para uma época de ouro da música extrema mineira. Destaque para Evil Metaphysical, que resume legal a proposta do quinteto.
Antes da terceira banda, a melhor pedida era pegar uma lata de cerveja bem gelada. Uma excelente companhia para ouvir o som do Martírio. A latinha serve para ser empunhada várias vezes, brindando à thrasheira black metal oferecida. Isso se você não estiver castigando seu pescoço com frenéticos movimentos circulares. Impossível não se lembrar da lenda germânica Desaster, quando ouve-se o som dos mineiros. Sem falar em algumas doses de Maiden 1980´s que, somadas ao mais genuíno black metal das Gerais, fazem um tipo de música extremamente agradável. A última vez que o Curupira viu um show deles não havia baixista. O que era bom ficou melhor, já que as quatro cordas estão bem lideradas pelo colega de imprensa Pedro Jaued. Destaque ainda para o vocalista Cleiton, que tem a entonação ideal para a ideia musical dos caras. Mar Negro e Força Diabólica fizeram valer a pena o ingresso para todo o evento!
Depois foi a vez do Tristis Terminus apresentar seu Doom Metal, direto da cidade mineira de Barbacena. Um tipo de som que, se destoou musicalmente das outras bandas, por ser menos extremo, ganhou por manter a melancolia no ar. Os gritos macambúzios, cheios de dor, do vocalista Eduardo Tristis chamaram a atenção. Outro destaque foi para a beleza da competente baixista Silvânia. Em um mundo de Trolls, uma beldade faz muito bem para os olhos. Talvez ainda por não possuir repertório suficiente, duas covers de bandas emblemáticas do estilo, como Katatonia e, principalmente, Bethlehem, foram bem executadas.
Era chegado o momento da atração principal. Depressão, ódio e suicídio passaram a contextualizar o ambiente. Tudo capitaneado por uma banda francesa, baluarte do subestilo, batizado como Depressive Black Metal, e que ganhou muita força neste novo século. Uma proposta musical amuada, carregada em sentimentos negativos, inevitáveis de serem obtidos neste mundo, com letras que incitam o suicídio e outras formas de morte como alívio para todo o mal que nos assola. Claro que não vale levar tudo ao pé da letra, seria uma idiotice o camarada dar um tiro na cabeça porque uma puta banda sugere. Até mesmo porque nem quem criou a ideia faz isso! A grande sacada é a catarse, a música como válvula de escape e a arte obscura como pano de fundo para suplantar as mazelas... simples assim. Mas a energia emanada durante a apresentação, ah, é o que conta. Os gringos souberam escolher o set, perpassando boa parte da carreira, que tem cinco full length, cinco splits e cinco demos. Um detalhe interessante foi que eles colocaram um pouquinho mais de peso e velocidade nas canções, geralmente bem arrastadas nos trabalhos de estúdio. Mesmo assim, em vários momentos aquela atmosfera sombria pairava no ar, especialmente quando apenas os lentos dedilhados nas guitarras eram ouvidos. Música toca a alma das pessoas, todos sabem. Mas quando o lado atingido é aquele com o qual a convivência não é tão fácil,
a dor se faz presente. E os franceses sabem encontrar esse ponto com sua base melancólica e agressiva. Mas não foi apenas de baixo astral que o show dos caras foi marcado. Alguns torpedos, como As Some Blades Penetrating My Flesh e Dead Children (foda!), foram acionados e fizeram o público banguear pra cacete. O vocalista Lord Lokhraed é um caso à parte. Ele nasceu com uma deficiência na mão esquerda, que tem apenas dois dedos grossos, remetendo a uma pata de bode. Naturalmente satânico. E o próprio músico tira proveito disso, pintando a mão de vermelho, dando uma aparência ensanguentada, durante os shows. Não somente, o membro inusitado traz singularidade ao músico na execução dos acordes. E para quem poderia fazer algum comentário jocoso, basta ler a terceira estrofe da música We´re All Better Off Dead e sacar o que Lokhraed pensa sobre o detalhe físico dele. Ao fim das contas, o melhor show que BH teve neste ano, até o momento. Mais uma vez, parabéns para as hordas que participaram do evento, tocando, ajudando na produção e venda de produtos. Por falar nisso, é uma sensação do caralho poder ouvir música de qualidade, com cerveja a preço acessível. Sem falar dos salgados que salvaram a vida dos lariqueiros de plantão. A equipe do Curupira deixa aqui os mais sinceros agradecimentos por ter participado deste trabalho muito bem elaborado. Que venham outros.








Set lists

Aasverus

Myspace Aasverus

I – Canto instrumetal (instrumental)

II – The History

III – Forgotten

Abasberus

Myspace Abasberus

I – War

II – Ex Lege

III – The Glory of Pagan Winds

IV – Evil Metaphysical

V – The Last Opponent

VI – Marching to the Death

VII – Metal Blood

Martírio

Myspace Martírio

I – Almas Impuras

II – Enigmas Finais

III – Martírio

IV – Ínferos Fúnebres

V – Delírio da Demonente

VI – Mar Negro

VII – Força Diabólica

VIII – Instinto Profano

Tristis Terminus

Myspace Tristis Terminus

I – The Sadness is For Me (inst.)

II – Tagebuch Einer Totgeburt (Bethlehem Cover)

III – The Dead Days That Will Come

IV – Gateways to Bereavement (Katatonia Cover)

V – The Terror That Precedes the End

Nocturnal Depression

Myspace Nocturnal Depression

I – Elegy

II – Vinter

III – Isolement

IV – They

V – Fjaer (Spring)

VI – Beskiat

VII – As Some Blades Penetrating My Flesh / 7 Tears

VIII – Nostalgia

IX – Dead Children

X – Her Ghost Haunts These Walls

XI – The Cult of Negation

XII – Transylvanian Hunger (Darkthrone cover)

6 comentários:

  1. O diabo esteve lá, eu vi. hahahahaha

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  2. Foi cançativo concretizar esse evento...mais com certeza o mais prazeroso de todos...sinceros agradecimentos a todos os que apoiaram...valeu Osvaldo pela resenha...Força e honra a todos nós!!!

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    1. Como ficar sabendo de shows de black metal em bh?

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  3. Ah só uma correção pra voce aí...nossa primeira musica(banda Aasverus) se chama Canto instrumetal...blza. Valeu

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    1. Hailz Adriano!
      Valeu pelo comentário e pela batalha e vitoria na realização deste grande evento. Nosso membro Oswaldo curtiu e falou muito bem do mesmo!
      Desculpe pelo ato falho no nome da musica, já está corrigido.
      Grande abraço e continue propagando a chama de nosso underground!

      Hail Metal!

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