segunda-feira, 4 de junho de 2012

O Curupira agenda: Caravaggio, O Mestre das Trevas exibido em Belo Horizonte


Está acontecendo na capital, desde o dia 22 de maio, na casa Fiat de Cultura, a exposição “Caravaggio e seus Seguidores”. A mostra é uma bela oportunidade de ver um dos mais revolucionários, transgressores e misteriosos pintores da história da arte ocidental, um mestre do barroco europeu que estava muito a frente do seu tempo. Michelangelo Merisi (1571-1610), natural de Milão, Itália, ficou conhecido pelo nome da cidade natal de seus pais, Caravaggio. Desde cedo, exibiu um enorme talento, ganhando reconhecimento pelo seu modo de pintar virtuose. A pintura de Caravaggio é considerada o ápice, a apoteose do que se convencionou chamar barroco, causando choque na época em que viveu (entre os séculos XVI e XVII) e adquirindo o status de maldita. Como a maioria dos pintores de sua época na Europa, Caravaggio trabalhava sobre encomenda para a Igreja e para a aristocracia. Alternando entre temas mitológicos e religiosos, o pintor exibia em suas telas um realismo jamais visto antes, fato que acabou influenciando toda a arte que veio depois dele. Seus personagens bíblicos e mitológicos exibem um aspecto mundano, cheio de rostos comuns; o artista usava mendigos, prostitutas, bêbados e outras figuras a margem da sociedade, como modelos, ultrapassando o idealismo greco-romano, então vigente na arte europeia. Através do uso dramático e exagerado do artifício chamado claro-escuro – usado como metáfora sobre, entre outras coisas, o lado obscuro do ser humano –, expondo uma teatralidade exuberante, carregada de elementos contrastantes, ambivalências formais e simbólicas, como fé, culpa redenção, violência explícita, luxúria, blasfêmia e heresia, a obra não agradou nem um pouco a Igreja Romana e a sociedade da época, causando escândalo. Como se não bastasse, a biografia de Caravaggio ainda é permeada por brigas, bebedeiras homéricas, prisões e até um assassinato, mal esclarecido, cometido pelo pintor. Morto prematuramente, de causa desconhecida (especula-se de que tenha sido assassinado), o italiano carregou por séculos a pecha de maldito, devido aos fatores listados acima, sendo redescoberto pelo sistema de arte somente em meados do século 19. Esse currículo o torna um dos precursores da atitude metal de confrontar e transgredir os valores estabelecidos e a hipocrisia da moral cristã. Cheia de lascívia, desejo, caveiras, sangue, morte e trevas o legado do artista é influencia notória para artistas e ilustradores ligados ao estilo, como Derek Riggs (Iron Maiden), Ed Repka (Death, Megadeth), Larry Carroll (Slayer) entre outros. Bandas já usaram suas imagens em capas de álbuns, como o grupo brasileiro Heresia 666, que colocou a tela “Salomé com a Cabeça de João Batista” para ilustrar a capa de seu full lenght, Ad Vindictam, de 2011. O público banger, ao contrário dos estereótipos propagados pela sociedade, é tradicionalmente ligado a elementos que transcendem a música, como artes visuais (presentes em capas de álbum, no visual agressivo etc.), sem falar de outras referencias eruditas (música clássica, pintura, filosofia). Desta maneira, não precisa dizer que o rolé do Caravaggio é um programa mais do que obrigatório. A exposição, uma das maiores já realizadas sobre o artista na América Latina, conta ainda com seguidores póstumos da obra de Caravaggio, como Gentileschi, Baglione e Borgagianni, fica em cartaz até o dia 17 de julho. A entrada é gratuita. Muito bem recomendado na floresta...

Mais informações no site da Casa Fiat de Cultura

http://casafiat.com.br/exposicao.php?id=76&fb_source=message


Caravaggio na Casa Fiat

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