domingo, 24 de junho de 2012

O Curupira tarda mas não falha: BH Metal Fest 2012


A tarde do primeiro domingo deste mês, 3, foi marcada por música de qualidade na capital. O BH Metal Fest apresentou uma pequena parte deste vasto e potencial celeiro de grupos promissores da cena mineira. Tocaram as bandas Dunkell Reitter, Hellcome, Helltrucker, Seawalker, Abate e Desperata. Como “plus” foram convidadas as gatinhas paulistanas da Nervosa, um power trio thrasheiro que vem conquistando corações e ouvidos dos headbangers Brasil adentro. O evento foi na casa de shows Matriz, outrora conhecido como Caverna, um antigo reduto que sempre acolheu bandas do underground, ou aquelas apenas em busca de mais visibilidade, um lugar pra tocar um som mesmo. Apesar de ser um local relativamente pequeno, existe todo o clima sugestivo para o banger acomodar-se à vontade: dois espaços distintos, se a banda for ruim, vá pro bar encher a cara ou laricar. O som do palco é muito eficiente, méritos do operador “dinossauro” Carlão, e ainda há um espaço legal pro mosh comer solto. Na tarde/noite em questão, o preço do ingresso estava bem acessível, só 16 reais. Como tocaram sete bandas, o preço era pouco mais de dois reais para ouvir cada. Claro, temos de levar em consideração que não há atração que deixe a logística mais salgada, são praticamente todas locais. Mas se a moda pegasse... Em um dia no qual a tradicional macarronada com frango e coca antecede a rotina mortal da segunda-feira, nada melhor do que exorcizar essa equação de tédio dominical com música de peso. Abate foi a primeira banda a levantar o estandarte (ops, rimou). Letras em português e muita vontade no palco compensaram esse quase obsoleto metalcore que alguns ainda insistem em tocar. Em um estilo que, na opinião do Curupira, o grande destaque fica sempre nos vocais furiosos, quem curte o som não se frustrou, pois os caras deram conta do recado.

Vale citar que a composição do cast para o BHMF permeou por vários segmentos do metal, indo do metalcore ao mais genuíno thrash. Isso apenas serve para corroborar o quão profícua é a cena belorizontina. A segunda que subiu ao palco foi a Desperata. Os caras fazem um lance bem heavy, com vocais limpos, e muita coisa de prog/melódico na parte musical. Um tipo de proposta que, se os músicos não forem bons, vai queimar o filme. Mas os apadrinhados de Cláudio David não fizeram feio. Por falar no guitarrista da lenda Overdose, foi executado o cover de Stranger in Our Own Land, que também fará parte de uma coletânea de bandas mineiras tocando hinos do primeiro esquadrão das Gerais. Ainda falando sobre cover, todos os grupos do dia fizeram suas homenagens. Algumas muito bem executadas; outras, uma vergonha. Mas nós acreditamos ser o som original o que define o potencial de uma banda, por isso vamos limitar nossos comentários de covers apenas ao Desperata, pelo cunho informativo da notícia, afinal, vem disco reverenciando o Overdose por aí.

Na sequência, duas efígies do inferno fizeram o público bangear pra cacete. Após um relativo intervalo, o Helltrucker retorna para reforçar a linha de frente na luta mineira pelo underground. Pancadaria que vai do thrash ao deathcore, remetendo à representações internacionais, como Job for a Cowboy e a legião death metal de Gotemburgo. Bela apresentação! Depois veio o Hellcome, que manteve a pegada carregada na testosterona musical. Um meio termo entre o thrash e o metalcore, carregado no groove. Trampo bem parecido com o que Robb Flynn faz no Machine Head, após deixar seus tempos de Vio-lence para trás. Todas as duas “hell” agradaram bastante o público, preparando para as que viriam a seguir.

A euforia tomava conta da casa quando as meninas da Nervosa subiram ao palco. O fascínio exercido pela banda talvez se explique pela singularidade da proposta. È claro que já vimos, antes, bandas de metal formadas por mulheres, como as veteranas do Volkana. Porém o som das paulistanas tem influências mais agressivas, que vão desde o thrash alemão, passando pelo grindcore do Napalm até desembocar nas praias imundas do crust e do punk. Toda essa “feiura” contrasta com a bela imagem das jovens Prika Amaral (guitarra e backing vocals), Fernanda Terra (bateria) e Fernada Lira (vocal, baixo). Ao vivo, o trio tem o punch do punk e do rock n roll, apresentando-se cheio de energia e garra, com palhetadas e ritmos que enlouqueceram o mosh pit. As meninas vêm confirmando o status de revelação do metal, calando a boca de vários detratores, com muito respeito pelo cenário nacional e mineiro.

Era chegado o momento da melhor banda do dia, na opinião deste ser da floresta. Talvez ser a melhor não é unanimidade, mas pelo menos estamos falando da mais longeva. Desde o fim do século passado os thrashers do Dunkell Reiter levantam a bandeira do underground, alheios a quaisquer dificuldades. Quando olhamos para a cena thrash mundial vigente, nomes como Vektor, Toxic Holocaust, Merciless Death são bons representantes do legado deixado por Marcel Schmier e Mike Sifringer. Se hoje o Destruction faz um som mais moderno, sem perder a pegada, as três bandas supracitadas, MAIS o Dunkell Reiter, mantêm a chama dos 1980´s acesa. Esse é um dos motivos do quão renovadora é a cena mineira (e brasileira), quando se trata de música extrema – não devemos nada para gringo algum. Divagações à parte, o quarteto de Contagem fez mais uma apresentação maravilhosa. Petardos, um atrás do outro, que fizeram os bangers dançar com vontade. Logo depois nossa equipe correu toda empolgada para entrevistar as gatinhas da Nervosa, que antes tiraram fotos com muitos fãs, numa total demonstração de carisma. Em breve postaremos a conversa com as garotas. Tal alvoroço custou apreciar o show do Seawalker, quando voltamos para o palco, eles estavam tocando a última música, um cover de Angel of Death. Mas nós compensaremos tal falha com uma resenha do recém trabalho deles, Earthcode. O comentário faz parte de uma semana que o Curupira escolheu para homenagear seis grupos da capital. De qualquer forma, quem pagou 16 reais para ver e ouvir sete bandas deve estar comemorando o lucro até hoje. Parabéns aos produtores do BH Metal Fest 2012!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CONTATOS