domingo, 22 de abril de 2012

Metal Lovecraftiano


O universo do escritor norte-americano HP Lovecraft é povoado de imagens que nos transportam para outros universos. Lugares onde as leis físicas, químicas e psíquicas, que regem aquilo chamado realidade não fazem o menor sentido. A escrita de Lovecraft tem uma grande influência sobre o mundo do metal, inspirando vários artistas a criarem músicas, letras, capas de disco etc. Um dos exemplos mais notórios é o de Cliff Burton, um verdadeiro obcecado pelo escritor, que nos brindou com pérolas como “The Call of Cthulhu" e “The Thing That Should Not Be”, ambas do visceral Puppets.

Pois Lovecraft parece ter encontrado neste século um dos mais estranhos discípulos no universo musical, o quinteto australiano Portal. O grupo propõe uma obra onde música e imagens imbricam-se, concebendo um verdadeiro pesadelo áudio-visual que remete às regiões mais profundas e ancestrais do nosso inconsciente.

A música tem elementos de technical death metal, também black/death metal de grupos oitentistas como Sarcófago, e de grupos extremos vanguardistas e progressivos como o Morbid Angel. Encontramos também elementos de noise, música industrial e atonalismo (entre outras influências de música moderna de vanguarda). Vibração virtuose e ao mesmo tempo barulhenta, indo aos limites do suportável. Ao vivo e nos vídeos a banda tem uma preocupação obsessiva com a parte visual, com todos os membros do grupo usando roupas, máscaras e capuzes negros sem mostrarem nenhuma parte do corpo, lembrando um pouco o que os suecos do Ghost fazem (embora o som das duas bandas seja completamente diferente). Aliás, existe todo um mistério em relação aos membros do grupo, pois eles não revelam a verdadeira identidade, nem nunca mostraram suas respectivas fuças. Pra completar, eles adotam pseudônimos como Horror Illogium (guitarra), Aphotic Mote (guitarra), Ignis Faatus (bateria), Omenous Fugue (baixo). Destaque para o vocalista The Curator que aparece como uma espécie de sacerdote da escuridão, entre outras roupas esquisitas. Em Swarth, álbum lançado em 2009, a banda leva sua proposta ao paroxismo. Tudo é tão excessivo que se não causa certo estranhamento - ou dor de cabeça - chega a induzir ao transe.
Vamos tentar descrever: imagine o Deicide se entupindo de peiote e traduzindo em sons os piores pesadelos negros de Glen Benton. Ou então que Trey Azagoth abandonasse os seus impulsos revolucionários e cometesse alguns dos seus rifffs mais estranhos, suas escalas mais dissonantes e as quebradas de tempo mais desconfortáveis da história do Morbid Angel.

É mais ou menos por aí. A produção estrutura os instrumentos numa parede de som, em que impera a sujeira e ruídos de toda espécie. Isso sem falar sobre o gutural timbre de Curator parecer ter saído de uma caverna abissal de algum conto lovecraftino. Canções como “Swarth” “Larvae” e “Marityme” remetem tanto a fase clássica do metal extremo, nos 80’s e 90’s, assim como aponta novos caminhos para o gênero. Ainda é cedo para falar, mas provavelmente o grupo deve se tornar uma referência nos próximos anos.

Nota do pé virado: 8/10


Portal - Swarth

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